
Caxias do Sul registrou 2.241 roubos apenas no primeiro semestre deste ano, de acordo com os dados da Secretaria de Segurança Pública. A média é de um assalto a cada três horas. Isso representa um crescimento de 48%. Apenas nos primeiros seis meses de 2016, foram 442 casos registrados. O município é o quinto com mais casos no Rio Grande do Sul.
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No final da tarde de quinta-feira, um representante comercial de 31 anos, e sua mulher, de 27, foram vítimas de criminosos. Eles buscavam o filho de três anos na escola da rede Caminho do Saber, na Rua Guerino Sanvitto, pouco depois das 17h. A caminhonete Tiguan estava estacionada, e a mãe colocava o menino no banco de trás quando dois bandidos apareceram. O caso de Caxias aconteceu no mesmo dia e horário que o assassinato da representante comercial Cristine Fonseca Fagundes, 44 anos, que também buscava o filho em uma escola no bairro Higienópolis, em Porto Alegre.
Em entrevista ao Pioneiro na tarde de sexta-feira, o delegado Mario Mombach, titular da Delegacia de Furtos, Roubos, Entorpecentes e Capturas (Defrec) de Caxias do Sul, afirma que as pessoas precisam mudar de postura. Em tempos de crise, evitar maus hábitos e ter atenção com as movimentações suspeitas são regras de sobrevivência. Confira:
Pioneiro: Como evitar ser vítima de um assalto?
Delegado Mário Mombach: É preciso ter uma visão mais pró-ativa. Não podemos mais falar em atribuir culpa à vítima. O fato é que a criminalidade aumentou. O cidadão não pode mais ignorar isso e apenas esperar pela polícia. Precisa antever que a possibilidade (de ser vítima) é real. Não existe mais aquele discurso de "comigo não vai acontecer" ou "essa é uma cidade tranquila". A maioria dos ladrões é oportunista. As pessoas devem evitar se mostrar presas fáceis, como ostentar objetos de valor ou ficarem distraídas.
A Polícia Civil da Serra afirma que a investigação de latrocínios é prioridade. Como é essa postura?
Qualquer situação de latrocínio, mesmo que na forma tentada, recebe atenção especial por esta natureza de assumir o risco de matar pela subtração de bens. É desproporcional a vantagem financeira do bandido com o ânimo violento dele. Por isso, priorizamos e apresentamos um índice de elucidação bem satisfatório (dos seis casos registrados, cinco foram resolvidos). Não podemos deixar, em nenhum momento, que a criminalidade entenda como viável esta opção (de matar durante um roubo). Eles não podem trabalhar com esta hipótese pois a resposta vai ser dura e iremos virar a noite para buscar sua condenação. Se ele vai ser ressocializado, não cabe perguntar nesta hora. Iremos buscar provas e fornecer ao Ministério Público uma possibilidade de conseguir uma pena maior. O nível aceitável (de latrocínios) em Caxias é zero.
Os criminosos estão mais propensos a usar violência em assaltos?
É o que temos observado. A petulância deles está maior. Antigamente, havia um freio, mais por temor das punições (resposta policial e prisão) do que por ética moral. Agora, estão com este freio totalmente ausente. É decorrência da sensação de impunidade. É um discurso decorado deles, não um raciocínio elaborado. E a cadeia não coloca mais medo no bandido. Perderam aquele medo da Justiça. Muitos deles, inclusive, têm uma condição de vida melhor quanto estão no presídio.
Muitos afirmam que a diferença de um roubo para um latrocínio é o apertar de um gatilho. Como enfrentar esta situação em uma época de crescente aumento de roubos?
Procuramos fazer uma acompanhamento de perto deste criminosos mais propensos. Queremos saber quem são os assaltantes "topo de linha" e os com maior frequência em casos. Assim, temos a possibilidade de impedi-los de agir. Conseguimos detectar facilmente a progressão da carreira criminosa desses inconsequentes. Eles mostram seu perfil muito rapidamente, e procuramos monitorar estes "possíveis assassinos". É a forma de trabalhar previamente quando um criminoso começa a se sobressair, mesmo que a lei seja branda para alguns crimes, como receptação (de produtos roubados).
Como a Defrec acompanha o aumento de roubos a veículos?
Nos últimos dois anos, seguramente, dá para afirmar que o perfil de quem rouba carros mudou. Este crime se banalizou muito. No jargão policial, qualquer "pé de chinelo" com uma arma rouba um carro. Não há uma articulação criminosa para troca por drogas ou desmanche de carros. É um crime pulverizado e de ocasião. Na primeira oportunidade, eles roubam o carro e depois vão pensar no que fazer, como repassar este veículo adiante. Existe uma gama de possibilidades muito grande neste meio criminoso.
SAIBA COMO SE PROTEGER
- Estar sempre atento ao seu redor. Verificar se o seu veículo está sendo seguido, se há pessoas suspeitas onde irá parar.
- Evitar locais escuros e mal-iluminados ou próximos a becos e terrenos baldios. Os bandidos preferem usar o elemento surpresa contra as vítimas.
- Permanecer parado dentro do carro é perigoso. Esperar uma pessoa por 10 ou 15 minutos é aumentar a possibilidade de ocorrer uma ação criminosa.Se for buscar alguém, chegue o mais perto possível do horário. Se estiver esperando carona, fique em local protegido e evite esperar sozinho na rua.
- Cuidado em entradas e saídas de garagem. A maioria dos roubos a residência começa com a vítima sendo rendida ao chegar em casa. Verifique se não há pessoas suspeitas no entorno. Se for necessário, dê uma volta na quadra antes de entrar.
- Não deixar produtos de valor à vista dentro do carro.
- Evite deixar documentos, contas ou objetos que identifiquem o dono do carro e seu endereço. Em caso de roubo, estes dados são usados pelos ladrões para extorquir a vítima ou seus familiares. Evite expor adesivos no carro que identifiquem escola, faculdade ou local de trabalho. Essas informações podem facilitar uma versão de sequestro: "Acabei de sequestrar sua filha na universidade. Ela é estudante de medicina, não é? Quero R$ 50 mil".
- Não negocie com bandidos a devolução do automóvel. A maioria dos veículos roubados são recuperados pela polícia – o índice gira em torno de 70%. O assaltante não costuma permanecer por muito tempo com um veículo roubado pois esta é uma prova contra ele.
- Atenção às redes sociais. Integrantes da Polícia Civil e da Brigada Militar alertam que as pessoas se expõe demais e tornam públicas informações que atraem os criminosos. Além de assaltantes que procuram por veículos e residências com valores, os dados pessoais podem ser usados em golpes por estelionatários.
- Em caso de assalto, evite movimentos bruscos. Os assaltantes costumam estar sobre efeito de drogas, por isso tente não provocar uma reação. Deixe suas mãos visíveis, informe a ação que vai fazer e busque concordar com as ordens do criminoso e ser colaborativo. Lembre-se que do outro lado está uma pessoa disposta a tudo.