
Entre médicos de diferentes áreas, infectologistas, autoridades ligadas à área da saúde e de análise de dados, a principal medida que trouxe Caxias do Sul até a situação que estava até esta sexta-feria – a com menos casos e menos mortes entre as 13 do país na mesma faixa de população entre 500 mil e 600 mil habitantes – foi a adoção precoce do distanciamento social.
Leia mais
Acompanhe os casos confirmados na Serra
Seja pela imposição de decretos, por iniciativa de empresas ou pela adesão dos moradores, é possível ver nos gráficos o resultado: no período em que o distanciamento foi posto em prática intensamente a curva de disseminação cresceu de forma mais lenta.

– O que aconteceu, devido ao lockdown inicial, às medidas de fechamento do comércio, de eventos, as pessoas tiveram que ficar em casa, mudar seus hábitos, utilizar a máscara, lavagem de mãos rigorosa, modificação do contato interpessoal. Nós precisamos ficar distante das pessoas e, muitas vezes, das pessoas que amamos. Vemos que essas medidas, que pareciam inicialmente poucas e simples, fizeram uma grande diferença. Caxias do Sul e sua população está de parabéns, no sentido de que estamos nos esforçando para que consigamos manter o número de casos numa evolução mais lenta que o resto do país – avalia a infectologista Lessandra Michelin.
A infectologista Giorgia Torresini também afirma que Caxias do Sul respondeu rapidamente à pandemia:

– Este isolamento social foi importante, pois diminuiu a circulação viral na cidade. E este tempo foi necessário para que a comunidade se preparasse. Os hospitais receberam treinamentos, fortaleceram as equipes e a comunidade teve tempo para se familiarizar com as novas recomendações contra o vírus.
A redução inicial da movimentação na cidade é apontada como principal ação de combate à pandemia pelo secretário de Saúde de Caxias, Jorge Olavo Hahn Castro. Mas ele enumera outras medidas tomadas pela administração pública que corroboraram no controle:
– Separação nos atendimentos das UPAs das síndromes gripais dos atendimentos comuns, a ampliação do número de leitos de UTI, a testagem em locais em que ocorreram focos em outros municípios, nos adiantamos a isso e testamos todas as casas asilares de Caxias do Sul. Então, não ocorreram focos em casas asilares, que causam inúmeras mortes e ocupação de leitos de UTI. E esse pequeno número de óbitos, que infelizmente ocorreu, também deve-se à excelente qualidade das UTIs do município.

Por mais que concorde no que se trata ao distanciamento social, a investigação feita pela equipe da Vigilância em Saúde do município entre os familiares dos casos confirmados positivos é a principal medida adotada pela prefeitura segundo a coordenadora do serviço em Caxias, Andréa Dal Bó.
– A equipe da vigilância faz um abusca ativa de todos os casos desde o início da covid, fazendo com que identifiquemos os casos que são positivos, estabelecendo o isolamento dessas pessoas – explica a gestora.

Mais 23 leitos de UTI
Além disso, ela aponta a estruturação do hospital de campanha, estabelecimento de fluxos nas unidades básicas, aumento de leitos de UTI (subiu de 100 para 123), aquisição de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), fiscalização nos estabelecimentos, monitoramento de possíveis surtos em casas para idosos e ampliação do público de testagem para além dos profissionais de saúde e de segurança, as pessoas com sintomas que tenham mais de 50 anos, mulheres que recém deram à luz e gestantes.
Seguir com o controle exige manutenção das medidas
Se chegamos aos cem dias de pandemia com situação controlada em Caxias, os dados dos últimos dias alertam para um crescimento vertiginoso dos casos. Enquanto, até o final de maio, o registro em 24 horas ficava em no máximo 10 novos casos, no dia 15 deste mês tivemos um pico de 72. Há uma série de fatores envolvidos, resultados de exames represados, surto em um frigorífico na cidade e aumento na testagem, que justificam o avanço, mas a revelação de pessoas que já tiveram ou têm a doença aponta para a necessidade de reforço nos cuidados para evitar a disseminação do vírus, que é exponencial.
A infectologista Lessandra Michelin acredita que se a cidade seguir com as medidas de distanciamento social, se o comércio e as empresas que estiverem abertos permanecerem também com as exigências do uso contínuo de máscara, com lavagem de mãos rigorosa e com distanciamento entre pessoas, será possível manter o vírus contido, dentro das possibilidades.
– Sabemos que ele continuará se disseminando, mas que, se nós mantivermos essas atitudes, ainda conseguiremos que ele tenha essa disseminação, mas de uma forma calma e que conseguiremos absorver a assistência em saúde dos casos necessários – considera a médica.
Fiscalização e consciência
A também infectologista Giorgia Torresini é mais incisiva no alerta. Para ela, a preparação inicial serviu para que o vírus, que agora circula mais intensamente na cidade, não pegasse a população desprotegida. Porém, não pode haver descuido.
– Onde falharem as precauções, haverá contaminação. Agora, só manteria uma fiscalização severa do município em cima das orientações dadas no primeiro momento. Se houver fiscalização da prefeitura e conscientização da população, Caxias pode voltar suas atividades. Se isso não for garantido, a situação pode piorar – avalia a infectologista Giorgia.
Leia também:
Ação liminar suspende bandeira vermelha em Garibaldi


