
Com certeza você já ouviu de alguém ou já leu em alguma rede social que Caxias do Sul é uma ilha entre municípios onde o novo coronavírus avança de forma acelerada e onde o número de mortes cresce em larga escala a cada semana. E, até aqui, considerando essas variáveis, tem sido mesmo. Claro que não se pode comparar cidades de portes diferentes. Contudo, mesmo com aumento recente de pessoas infectadas e nove vidas perdidas em decorrência da covid-19, ao chegar aos 100 dias de pandemia, Caxias tem a melhor situação entre as 13 do país com a mesma faixa populacional, considerando as projeções do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE): entre 500 mil e 600 mil habitantes.
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Enquanto a cidade gaúcha registrava 608 casos e nove mortes, para mais de 9 mil testes, Florianópolis tinha número próximo de mortes, 10, mas 1.204 casos. Se compararmos Caxias com a equivalente em população nos estados ao Norte, a diferença cresce a nosso favor. As piores marcas são das capitais de Rondônia e do Amapá: Porto Velho tem 8.469 e 254 mortes e Macapá, 204 óbitos entre 7.962 casos.

Mas o que fez o município gaúcho chegar ao fim do terceiro mês da pandemia com menor número de casos e de mortes entre os seus pares? Especialistas e autoridades da área da saúde apontam para os mesmos fatores: medidas precoces de distanciamento, como férias coletivas em grandes indústrias, fechamento inicial do comércio e antecipação de protocolos por parte da rede de saúde.
Para médicos infectologistas, administradores de instituições hospitalares e gestores municipais, o chamado isolamento precoce permitiu que a cidade se preparasse para a chegada do vírus. Tanto a rede hospitalar teve tempo de se organizar, com capacitação de servidores e compra de medicamentos, quanto a população de se familiarizar à etiqueta respiratória, ao uso de máscaras e à higienização constante das mãos, todos considerados hábitos simples, mas fundamentais no combate à disseminação do vírus.
A cidade fez o dever de casa até aqui, sim, porém, existe um caminho a percorrer, que não se sabe se será curto ou longo. Nesse sentido, essas mesmas autoridades são uníssonas em alertar para a necessidade de manutenção das ações de higiene pessoais e coletivas e da fiscalização em relação às determinações dos órgãos públicos, sob pena de a cidade ver os casos se multiplicarem e a quantidade de internações e ocupação de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e de óbitos aumentar. Não é tempo de baixar a guarda.

Com base no gráfico que compara Caxias aos outros municípios na mesma faixa de população em relação ao número de casos, o cientista de dados Isaac Schrarstzhaupt atesta que a cidade gaúcha está em melhor situação, mas faz um alerta: o cenário está mudando.
– Caxias teve uma subida no começo, depois teve um pouco mais de subida, deu um pequeno surto e agora está tendo outro. Se a análise for feita a partir do centésimo caso, percebe-se que Caxias segue uma tendência de crescimento. Dos cem casos em diante que é onde começa a exponencial, notamos que algumas dessas cidades começaram há muito tempo e Caxias teve o centésimo caso quase 30 dias depois de algumas delas, como Florianópolis, por exemplo. Depois que chegamos aos cem casos, estamos com crescimento bem alto. Se continuar nessa velocidade, pode ser que comecemos a chegar perto de Joinville, que é que está mais próximo de Caxias – explicou Schrarstzhaupt.
*Colaboração especial dos jornalistas Aline Parodi, Jeferson Saavedra e Márcio Serafini
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