
Antropólogo e professor da Universidade de Caxias do Sul, Cristiano Sobroza Monteiro, 32 anos, chegou ao salão Tesourinha de Ouro, na semana passada, para fazer barba, cabelo e bigode. O tempo em que permaneceu no estabelecimento da Rua Treze de Maio, porém, rendeu muito mais do que um simples corte. Tanto que inspirou um texto que bombou em suas redes sociais. As impressões de Cristiano, assim como a “sessão de fotos”, você confere abaixo.
"Cansado de frequentar barbershop, hoje decidi que iria aparar os meus pelos na Barbearia Tesourinha de Ouro, do simpatissísimo Jorge Pedrotti. O lugar é um desses ambientes pouco convencionais, que ainda resistem nos centros urbanos, porque possuem identidade própria.
Do alto de seus 72 anos, seu Pedrotti contou-me que aprendeu o ofício sozinho, aos 18, cortando, em casa, o cabelo do pai, dos primos e irmãos. Logo a fama de “bom laminador” se espalhou pela vizinhança de Ana Rech, localidade onde residia com a família, no interior de Caxias, que passou a demandar os serviços do jovem barbeiro. Em razão da habilidade no manuseio das lâminas e tesouras, abriu o próprio negócio, aos 25 anos.
O interior da barbearia Tesourinha de Ouro é um verdadeiro bricoleur, constituído por centenas de objetos que seu Pedrotti foi juntando ao longo da vida. Tem flor de plástico, flâmula da Itália, imagens religiosas, urso de pelúcia, diversos relógios de parede, além de seu xodó: uma cadeira profissional de barbeiro com mais de 100 anos de existência.
Enquanto fazia minha barba, ele narrava histórias em torno de cada uma das peças que constituíam, originalmente, o lugar. Nos fundos do estabelecimento, há dezenas de guarda-chuvas de diversas cores e tamanhos, já que, nos momentos em que não está barbeando, seu Pedrotti ocupa-se com uma atividade pouco habitual nos dias de hoje: consertar guarda-chuvas estragados.
Já ao final do atendimento, ele entregou-me seu cartão comercial, no qual há uma frase que diz: 'o castigo mais terrível do culpado é nunca ser absolvido no tribunal de sua consciência'. Quanta gentileza!!! Seu Pedrotti já tem um novo freguês.”










Agradecimento
Agradecimento especial ao antropólogo Cristiano Sobroza Monteiro pelo compartilhamento do texto original e pela cedência das imagens.