Pais jovens costumam experimentar a paternidade de maneira diferente da que receberam. Tornaram-se mais envolvidos e participativos e passaram a dividir a criação dos filhos com a companheira - alguns antes mesmo do bebê nascer.
Eles querem compartilhar histórias e descobertas, aprender uns com os outros, dar exemplo. Querem estar próximos, decifrar gostos e expressar o amor sem limites ou tabus: não são super-heróis, mas são pais super.
A versão pai do designer gráfico Ângelo Rafael Coffy, 31 anos, nasceu com o "positivo" no exame de gravidez da mulher, a jornalista Lariane Cagnini, 29, materialização de um sonho adolescente e que ganhou homenagem numa tatuagem no dorso da mão direita com o nome do filho.
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- Tu passas a viver para os dois, mulher e filho. Acho que no nosso caso, o planejamento melhora tudo, nós nos unimos mais - avalia.
A preparação tinha também uma mudança geográfica como pressuposto. Há dois anos, Ângelo e Lariane deixaram Caxias do Sul - ele é natural de Cruz Alta, ela de Uruguaiana - , onde moraram na última década, para viver em Balneário Rincão, em Santa Catarina. Queriam qualidade de vida e tranquilidade.
- Mudamos de hábitos, nos estruturamos para constituir família - conta.
Ressalta que não precisou ter o filho Rafael nos braços para começar a experimentar a sensação da paternidade - ele tem três meses recém-completados, a mesma idade do blog Meu Querido Filho. A intenção do pai de primeira viagem é compartilhar impressões masculinas sobre o nascimento e crescimento de uma criança, servindo como alternativa às vozes e abordagens femininas, bem mais expressivas na web.
Do parto ao primeiro banho, da troca de fraldas a escolha do pediatra, da espera do resultado do teste do pezinho ao uso do sling: tudo é material para o diário virtual.
- Já escrevia para minha família, para contar sobre o Rafa, porque todo mundo mora longe. Reúno coisas emocionais, outras práticas. Estamos saindo para viajar e precisei ligar para a companhia aérea para ver como tudo funciona. Isso vai virar um post na volta da viagem - diz.
Boa parte da inspiração na criação de Rafael vem da convivência com o pai, de quem sempre foi muito próximo e em quem pretende se espelhar.
- Meu pai me levava ao pediatra, imagina isso em 1983. Faço isso hoje e vejo como as pessoas ainda ficam espantadas, têm a ideia de homem da época das cavernas, que deveria sair para caçar ou ir atrás do dinheiro e a mulher ficar em casa - observa.
Mudanças à parte, ele nem pensou como vai ser o primeiro Dia dos Pais com Rafael nos braços. Ele irá passar com a família, só não sabe como descrever a sensação da paternidade:
- Não encontro adjetivos, é uma nova forma de amar, de ver a vida de outra maneira. Todos diziam que eu iria entender quando fosse pai, mas é tudo maior e melhor.
"Um é pouco, dois é multidão"
Enquanto acalenta Tomás, um ano, Maurício Grezzana, 40, fala com orgulho das habilidades da primogênita, Cecília, cinco, para o desenho e a música. Com canetinha dos Minions, a pequena pinta flores e desenha fofíssimos elefantes. A identificação entre pai e filha não poderia ser maior: ele é arquiteto, sempre gostou de desenhar e pintar, e é guitarrista da banda Big Stuff. Cecília já frequentou alguns ensaios do pai e ganhou uma mini guitarra Flying V rosa, mas gosta mesmo é de tocar a bateria da Barbie.
- Um desgosto para o pai - brinca, evidenciando que nessa relação só há espaço para o orgulho.
Maurício tem 21 irmãos, cresceu em uma casa cheia de crianças e, como vivia com a mãe - os pais são separados e ele se identifica muito com ela na criação dos filhos _ na adolescência tornou-se uma espécie de pai dos manos. Quando recebeu a notícia da gravidez, ficou muito feliz e sabia que estava preparado para ajudar a mulher, Ana Paula, 38.
- Adorei porque ia ser uma menina. Depois veio esse menininho, tudo perfeito - baba.-Um é pouco, dois é multidão - observa.
A rotina dele é puxada, mas faz questão de participar do dia a dia dos pequenos. Para se ter uma ideia, é ele que acorda durante a noite para atender os filhos.
- Como tenho muitos compromissos, saio cedo e volto tarde. Aí combinei que eu faço o mamá do Tomás, aí acordo para dar a ele e a Cecília escuta e aproveita e também quer água, torrada... Levanto duas ou três vezes por noite. É prazeroso, sabe? - conta.
Essa cumplicidade ficou evidente na hora das fotos dessa reportagem. Cecília já estava estava impaciente, mas bastou o pai cochichar algo no ouvido dela para a guriazinha sorrir. Ele sabia exatamente como animá-la - no caso, ofertou um sorvete bem grande e ela topou. Mas tinha que ser de creme, que ela adora. Enquanto negociava, não tirava os olhos do sorridente Tomás, que ora ensaiava passos pelo apartamento, ora queria rabiscar com as canetas.
- Meu maior prazer como pai é poder participar da rotina deles - afirma, sorridente.
Família
Paternidade contemporânea revela vínculo forte e envolvimento dos homens na criação dos filhos
Pais estão mais participativos e presentes no dia a dia das crianças
Tríssia Ordovás Sartori
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