A mãe da adolescente atacada em uma cracolândia na zona norte de Caxias do Sul prestou depoimento na Polícia Civil, na manhã desta quarta-feira. A mulher relatou detalhes da rotina da filha de 15 anos e cobrou explicações sobre a liberdade dos dois suspeitos de envolvimento no crime.
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A soltura da dupla revoltou moradores do Cânyon e de parte do Vila Ipê. Na tarde de quarta-feira, um homem foi apontado como autor do ataque e acusou um segundo comparsa. Pelo menos 15 mulheres e diversas crianças tentaram linchá-lo a chutes e pontapés, mas a Brigada Militar (BM) conteve os ânimos.
A dupla negou participação e foi liberada por falta de provas, segundo o delegado responsável pela investigação, Rodrigo Duarte. A adolescente permanece em estado grave na UTI do Hospital Pompéia e respira com auxílio de aparelhos.
Logo após o depoimento na Delegacia de Homicídios e Desaparecidos, a mãe da jovem conversou com o Pioneiro.
Pioneiro: Como está a saúde de sua filha?
Mãe: Ela está sedada, respirando por aparelho. Ainda não sabemos o que pode acontecer.
Pioneiro: A senhora conhece os suspeitos do crime?
Mãe: Sim, todo mundo no bairro sabe quem são eles. Questionei a polícia sobre a soltura deles, deram explicações de que não havia provas. Só que encontraram a camiseta de um deles no local onde minha filha foi encontrada. Eles (suspeitos) ainda moram no bairro. E como ficamos? O delegado me disse para ficar tranquila, mas tenho outros filhos, estamos preocupados.
Pioneiro: A senhora avaliou se era seguro sua filha ir sozinha até o trabalho naquele horário? No caminho há um ponto frequentado por drogados.
Mãe: O trabalho (informal) é perto de casa. Pedi se ela queria que eu fosse junto, mas disse que não precisava, estariam esperando por ela. Eu disse: Deus te abençoe minha filha. Mais tarde, fui trabalhar.
Era o primeiro emprego dela?
Mãe: Sim, ela parou de estudar para trabalhar. Não gostei da decisão, mas ela queria ter o dinheiro dela. O trato era de que ela fosse pra EJA (Educação de Jovens e Adultos), mas na correria não conseguimos matrícula. Minha filha só queria trabalhar, nem namorado tinha.
Pioneiro: Quando a senhora percebeu o desaparecimento?
Mãe: Antes de ela sair de casa, combinamos de telefonar. Fui trabalhar e mais tarde tentei ligar no celular dela, mas estava desligado. Ao meio-dia o dono da padaria (onde a adolescente iria trabalhar) esteve em casa e contou que ela não havia aparecido. Foi um desespero e fomos procurá-la.
Pioneiro: Houve confirmação de abuso?
Mãe: Sim, os médicos nos disseram que houve estupro sim. Fizeram coisas muito ruins com minha filha.
Pioneiro: Encontraram o celular que ela carregava?
Mãe: Não. Tentamos ligar e só dá na caixa postal. Ela carregava sempre o aparelho.
Violência
"Minha filha só queria trabalhar", diz mãe de adolescente atacada na zona norte de Caxias
Liberdade de suspeitos do crime revoltou vizinhos e familiares da garota
Adriano Duarte
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