Há um mês, o silêncio encobre o andamento de um dos casos mais polêmicos deste ano na Serra gaúcha. A morte do estudante Anderson Styburski, 16 anos, e do servente de pedreiro Danúbio Cruz da Costa, 20, em um suposto confronto com a Brigada Militar (BM), é cercada por dúvidas e incertezas que autoridades da área da segurança pública se negam em responder.
As mortes ocorreram na madrugada de 16 de março, em Bento Gonçalves. Os rapazes estavam no bagageiro de uma Fiorino dirigida por Tiago de Paula, 18, que levava como caroneiro um jovem de 15 anos. Tiago não parou em uma blitz promovida pelos soldados Edegar Júnior Oliveira Rodrigues, 29, e Neilor dos Santos Lopes, 23.
Segundo os soldados, os jovens efetuaram dois disparos de dentro da cabine com um revólver Rossi, provocando a resposta dos PMs com vários disparos. Anderson e Danúbio foram alvejados e morreram na hora. Os sobreviventes contestam a versão dos policiais e defendem que estavam desarmados quando houve a tentativa de abordagem.
Conforme o advogado dos policiais, Adroaldo Dal Mass, os clientes não se manifestarão na imprensa sobre o caso. Eles permanecerão afastados do policiamento ostensivo até o término do inquérito policial militar, enquanto cumprem licença-saúde.
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Veja o que dizem as autoridades:
:: Delegado regional da Polícia Civil, Paulo Roberto da Rosa:
- Apesar de passados 30 dias as investigações continuam, sem prazo para terminar. Iremos apurar com todo rigor e isenção o que de fato ocorreu naquela noite. Neste momento, não temos condições de adiantar o andamento do inquérito pois ainda dependemos de uma série de perícias e exames. Ou seja, dependemos de uma série de fatores que influenciam diretamente no andamento das investigações e decisões a serem tomadas. É um caso complexo em que não podemos correr o risco de tomar decisões prematuras.
:: O delegado que investiga o caso, Álvaro Becker, também foi procurado pela reportagem e disse que ainda não se manifestaria por questões éticas.
:: A assessoria de imprensa do Instituto Geral de Perícias (IGP) divulgou nota, onde relata que:
- A perícia está realizando o seu trabalho de elaboração e produção do laudo, que devido à complexidade terá esse prazo estendido. Informações sobre o caso apenas o Delegado como presidente do inquérito pode divulgar.
:: Promotor de Justiça Eduardo Lumertz:
- O Ministério Público aguarda a remessa, dentro do prazo legal, do respectivo Inquérito Policial aberto pela Polícia Civil. No caso de eventual necessidade de prorrogação do prazo para conclusão das investigações, a Promotoria aguardará que a Autoridade Policial formule tal pedido à 1ª Vara Criminal de Bento Gonçalves. Ocorrendo tal pleito, o Ministério Público, levando em consideração as circunstâncias concretas, irá se manifestar a respeito da necessidade (ou não) de se estender a atividade investigativa policial.
:: O corregedor-geral interino da Brigada Militar, tenente-coronel Jairo de Oliveira Martins:
- O inquérito policial militar permanece sob investigação na medida que aguarda a remessa dos laudos periciais por parte do IGP. O prazo para a conclusão dele é 16 de maio. Mas, caso os laudos não sejam concluídos até a data, o inquérito é remetido ao comando e, depois, retorna ao oficial competente para que aguarde os exames para serem anexados. Enquanto isso, a investigação segue sob sigilo.