
Acostumado a viver situações de extremo risco em aventuras exibidas para todo o Brasil no Esporte Espetacular e no quadro Planeta Extremo, do Fantástico, o jornalista Clayton Conservani palestrou nesta segunda-feira, na reunião-almoço da CIC. Para aproximar suas experiências às do público de empresários, pautou sua fala em metáforas sobre os perigos de escalar o Monte Everest, por exemplo, com os desafios enfrentados por empresas em tempos de crise.
Após a palestra, comemorativa aos 25 anos do Sindicato das Indústrias de Material Plástico do Nordeste Gaúcho (Simplás), o Pioneiro conversou com o jornalista, que em novembro estreia nova edição do Planeta Extremo, desta vez como programa que irá ao ar após o Fantástico. Confira abaixo trechos da conversa.
Pioneiro: O que fez do Planeta Extremo uma série de tanto sucesso na TV aberta, a ponto de virar um programa em sua terceira temporada?
Clayton Conservani: O Planeta Extremo leva o espectador a lugares inóspitos, que dificilmente ele iria com a família. Essa é a essência. Mas o fato de eu e a Carol Barcellos (jornalista que irá dividir episódios com Clayton) não sermos atletas, termos habilidades limitadas, nos aproxima de quem está em casa. Se eu fosse um superatleta, talvez não houvesse essa identificação. Sou um cara normal, que faz seus treinamentos, mas qualquer cidadão que está em casa, se tiver alguma disciplina, consegue fazer aquilo que eu faço. Escolhemos desafios que estejam a meu alcance e tudo é feito com muito sacrifício e comprometimento, mas o fato de eu ser um cara muito igual ao espectador é que aproxima do público.
Em alguma aventura chegou a desistir?
Quando fui escalar o Aconcágua eu desisti a 500 metros do topo. Encontramos sul-africanos que precisavam de ajuda e paramos para ajudá-los. No Everest desistimos por causa do mau tempo. Ter medo, saber ter respeito às condições climáticas e conhecer os seus limites é o que te mantém vivo. O que eu digo é que sou um contador de histórias. E quanto mais longe eu for em uma maratona, escalada ou exploração, mais elementos eu vou ter pra contar essa história. Por isso vou no meu limite pra contar da melhor forma possível.
O gosto pela aventura sempre fez parte da tua personalidade?
Quando eu era menino não imaginava que teria a chance de escalar as maiores montanhas do planeta, mas era um sonho. Quando iniciei, aos 15, 16 anos, minha sapatilha era um Kichute que eu cortava as travas. As cordas eu nem sei se poderiam me segurar em caso de algum a queda. Mas a vontade de conquista e de lugares desafiadores eu trago da infância e é o que me move. Não adianta ter a melhor bicicleta, o melhor equipamento se não tiver força de vontade. A melhor máquina é o que está no teu cérebro, o que está dentro de ti.
Aos 48 anos, a idade começa a pesar na hora de encarar algum desafio?
Hoje me considero muito mais maduro do que quando tinha 20 anos. Com aquela idade eu não conseguia correr uma maratona, hoje consigo. O corpo ainda não chegou a atrapalhar, pelo contrário. O amadurecimento mental e psicológico a gente conquista ao longo dos anos. Mais jovem, eu desistia muito mais facilmente. Com o tempo, mais "cascudo", as experiências te fortalecem psicologicamente.
De todas as situações extremas que tu já viveu, qual a mais marcante?
Foram muitas que tiveram muita exigência. Mergulho em cavernas, como os buracos azuis, nas Bahamas, é algo muito difícil, tem que manter a serenidade o tempo todo em um ambiente muito confinado. A escalada da Weeping Wall, no Canadá, chamada de parede que chora, é uma cascata de 200 metros em que blocos de gelo pode se desprender a qualquer momento. São situações extremas dentro do que a gente se propõe a fazer.
Já teve alguma experiência de aventura na Serra gaúcha?
Em 1996 eu fui cruzar o Itaimbezinho com outros três alpinistas. Íamos conquistar um paredão que nunca havia sido escalado. Mas não parava de chover e, como meu tempo era limitado, segui só com o cinegrafista e foi chamado um guia para nos ajudar. Só que ele deveria ter chegado às 8h e chegou só às 14h, atrasou tudo. Seguimos, mas começou a escurecer e não estávamos preparados para ficar mais uma noite no canyon, não tínhamos comida. Fomos obrigados a passar a noite embaixo de uma pedra, com um frio desgraçado, e na manhã seguinte já havia equipe de resgate dos bombeiros nos procurando, achando que tínhamos morrido. Foi uma das grandes roubadas da minha vida, mas o lugar é incrível. O Parque Nacional de Aparados da Serra é uma das regiões mais bonitas do Brasil e eu espero poder fazer em breve alguma aventura nesta região.