Entre os três principais setores da economia, Serviços têm a vantagem de preencher nichos. Não é de se estranhar, portanto, que modelos de negócios contemporâneos como Uber, em complemento a transporte de passageiros; Ifood, aprimoramento de telentrega; e Netflix, em substituição às videolocadoras, surjam e se consolidem como fenômenos do mercado com tanta rapidez: a comodidade é, cada vez mais, a prioridade do consumidor.
Por isso, enquanto indústria e comércio estão suscetíveis a sazonalidades e contextos econômicos, o mesmo não se aplica aos serviços, que dependem muito mais da próprio conceito do produto/atendimento e da aceitação direta por parte do consumidor.
Em Caxias do Sul, quase 40% dos empregos formais, até dezembro do ano passado, eram ocupados no setor de Serviços. Foram 11.944 vagas criadas na última década, uma média de 1.194 postos por ano. Em tempos de crise mal resolvida, trata-se de um crescimento saudável. É o setor com maior número de empresas em operação também. Segundo dados do Sebrae referentes ao ano de 2018, Caxias do Sul contava com 17.273 negócios voltados aos serviços, o equivalente a 49,43% do total de empreendimentos do município, de 34.942.
— A grande tendência é um crescimento sim de serviços, não só em Caxias, mas nacionalmente. Surgiram muitos segmentos novos, como nas áreas de T.I.s. Não somente na questão de manutenção de computadores, e sim todos os aplicativos ou mesmo as funções surgidas pela maior adesão da tecnologia na indústria — comenta a vice-presidente de Serviços da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC)de Caxias do Sul, Maristela Chiappin.
Dados do Sebrae indicam que, em 2018, a abertura de novos negócios no setor de serviços aumentou em torno de 50% em comparação a 2017, passando a representar cerca de 12% da abertura de estabelecimentos no país.
— Bens de consumo, até por serem mais duráveis, geram menos necessidade de recompra, por isso serviços acabam se destacando. Por definição econômica temos algumas coisas colocadas como serviço, como alimentação, por exemplo, apesar de você estar adquirindo um produto. Por importância econômica, há muitos municípios baseados na indústria, mas Caxias do Sul é bem desenhado na prestação de serviço — avalia Alcir Cardoso Meyer, analista de Relacionamento com Clientes do Sebrae/RS na Serra.
Principal setor do empreendedorismo
Os serviços, também conhecidos como setor terciário, abrangem muitos segmentos e muitas vezes engloba atividades do comércio, embora em Caxias seja diferenciado nos índices econômicos. Entre as áreas mais tradicionais dos serviços, destacam-se turismo, bancos, restaurantes, hospitais, consultorias, corretagem, contabilidade e até serviços públicos. Na prática, funcionam como complemento ao que os setores primários (agricultura), secundário (indústria) e, por isso, acabam sendo terreno fértil para o empreendedorismo.
Com o crescimento robusto dos últimos anos, entretanto, a própria classificação de empreendimentos acabou expandindo proporcionalmente.
— Um dos motivos é que há incentivos em legislações para criação de micro empresas individuais, de salões de beleza e barbearias, por exemplo. Muitas pessoas passaram a explorar o setor tornando-se empreendedores após ficarem desempregados. No entanto, muitos já trabalhavam na área, mas decidiram se formalizar nos últimos anos — complementa Maristela.
Em 2018, o Sebrae identificou que 61,8% dos empreendedores criam negócios por oportunidade e identificação de nicho, enquanto 37,5% por necessidade.
Negócios da moda
Nos últimos cinco anos, o fenômeno de abertura de barbearias começou a se propagar em Caxias. Hoje, o movimento já é o contrário, e o excedente que não vingou fecha as portas. Conforme Alcir Cardoso Meyer, analista de Relacionamento com Clientes do Sebrae/RS na Serra, o boom de negócios da moda é comum em todos os segmentos dos serviços
— Qualquer serviço passa por crescimento desordenado quando surge nova tendência de negócio, depois há fechamento e estabilização. O fechamento é porque a demanda passou, em parte, por erro de gestão. Quem permanece atende à demanda remanescente ou vai ocupar nicho oferecendo atendimento diferenciado — explica.
A filtragem natural do mercado, segundo ele, gera como consequência o aperfeiçoamento do respectivo segmento.
— Para se perpetuar no mercado vem a inovação, qual nicho, que perfil de cliente quer atender, que outros serviços têm a oferecer ao público. Recentemente, por exemplo, uma barbearia em São Paulo pilotou o negócio no público LGBT, 'ah, é um público muito restrito', justamente, é um público diferente que pode ter um poder aquisitivo melhor, aceita pagar um valor para ter atendimento diferenciado. Ou seja, ele fugiu do modismo das barbearias, consolidou o negócio dele mesmo sendo uma barbearia focando numa outra área de atuação — complementa.
A adequação do negócio, sugere, se baseia no estudo do perfil do público-alvo que o empresário/empreendedor mira.
— A comodidade é onde tá a demanda. Que tipo de cliente quero atender? Qual seu comportamento? Quais as áreas de interesse? Vou construir um negócio para atender esse cara. É preciso desenvolver negócio para se adequar a esse perfil de cliente. Construindo empreendimento a características alinhadas à expectativa de consumo de determinado nicho de clientes, gera venda — destaca.
De acordo com o Sebrae, os segmentos de serviço com maior geração de negócios nos últimos anos são: alimentação fora do lar (restaurante, lancheria, bares), comércio de artigos do vestuário, estabelecimentos relacionados à construção e relacionados à saúde e beleza.
Já os maiores crescimentos percentuais (comparativo entre 2013 e 2016, dado mais atual) foram nas seguintes áreas: lojas de conveniência (36%), serviços de comunicação multimídia (26%), marketing direto (18%), promoção de vendas (17%), atividades veterinárias (15%), serviços para apoio a edifícios (14%), desenvolvimento de programas de computador (13%).
Na contramão
Para empreender na prestação de serviços há duas opções: surfar na onda do modismo ou buscar nichos específicos em áreas com menor oferta.
Quando já estava confortável com sua graduação em Fisioterapia e exercendo a profissão, Paola Erlo Ribeiro, notou a falta de profissionais em um dos segmentos de sua área, a fisioterapia pélvica, voltada à reabilitação da musculatura do períneo, que abrange mulheres com continências e retenções urinárias, homens após cirurgia de próstata e gestantes. Decidiu se especializar na área.
O crescimento foi rápido e sete anos depois, o nicho praticamente criado por Paola hoje é explorado por outros profissionais da área.
— Quanto mais nos especializarmos numa área, melhor. Hoje em dia as pessoas buscam algo mais especializado. Conhecem ortopedista que trabalha com ombro? Não é mais ortopedista. Quem quer entrar no mercado, tem de se diferenciar, se especializar numa área — comenta.