A geração de empregos na Serra no primeiro trimestre de 2019 é a melhor para o período nos últimos cinco anos. De janeiro a março, os 49 municípios da região integrantes dos Coredes Campos de Cima da Serra, Hortênsias e Serra abriram 12,1 mil vagas com carteira assinada, de acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do governo federal. O resultado é fruto da diferença entre as admissões e as demissões ocorridas durante os três meses iniciais do ano. O desempenho não era tão elevado desde 2014, quando foram criados 13,1 mil postos formais.
Ao todo, 35 municípios serranos fecharam o último trimestre com saldo positivo no Caged, enquanto outros 13 tiveram saldo negativo. A movimentação está baseada, principalmente, no desempenho da agropecuária. O setor gerou mais da metade dos empregos até o momento na região, totalizando 6,7 mil vínculos. Isso ocorre por conta do período de colheita de frutas como maçã, pêssego e uva, que geram demanda por trabalhadores temporários nas propriedades rurais.
Em Vacaria, atual líder na criação de empregos na região e no Rio Grande do Sul, o primeiro trimestre se encerrou com a geração de 4,9 mil empregos formais. Deste total, 4,6 mil oportunidades estavam relacionadas à agropecuária, em especial na colheita da maçã. Ainda que nesta época a contratação de trabalhadores para os pomares seja habitual, em 2019 ela ocorreu em ritmo mais acelerado. Para efeito de comparação, no primeiro trimestre em 2018 o município havia aberto 2,9 mil vagas.
– Com o calor de janeiro, a planta ficou estressada e antecipou a colheita deste ano. Tivemos que colher quase 80% da safra em 20 dias e, por isso, precisava mais gente nos pomares – explica José Sozo, presidente da Associação Gaúcha dos Produtores de Maçã (Agapomi).
A safra da fruta movimenta em torno de 10 mil trabalhadores nos Campos de Cima da Serra, vindos de diferentes regiões do Rio Grande do Sul e até de outros Estados brasileiros. Como agora a colheita se encontra na reta final, a maioria da mão de obra foi dispensada entre março e abril. No momento, Sozo calcula há entre 1 mil e 1,5 mil safristas nos pomares da variedade fuji, que é mais tardia.
Apesar dos números parciais da Serra estarem no azul, a coordenadora do Observatório do Trabalho da Universidade de Caxias do Sul (UCS), Lodonha Soares, destaca que o resultado inspira cautela. Tradicionalmente, o primeiro trimestre costuma ter mais abertura do que fechamento de vagas, algo que ocorreu até mesmo nas temporadas de recessão. Além disso, a conjuntura econômica pode colocar em xeque a continuidade da criação de postos formais. As constantes revisões para baixo da projeção de crescimento da economia brasileira e a expectativa por reformas, como a da Previdência, fazem o empresariado pensar duas vezes antes de investir e reforçar as equipes.
– Existe uma situação de imprevisibilidade. Grandes empresas em Caxias têm a carteira de clientes garantida por seis meses, mas não sabemos como vai ser o segundo semestre. Já setores como o comércio ainda oscilam muito – destaca Lodonha.
Neste sentido, há municípios que, mesmo com saldo positivo, já apresentam um ritmo de criação de vagas inferior ao do ano passado. É o caso de Caxias do Sul. Puxada pela indústria, a cidade abriu 2,9 mil postos entre janeiro e março de 2019, o segundo melhor resultado na região e o quarto em todo o Estado. Porém, no ano passado, nesta mesma época, o saldo era de 3,6 mil oportunidades criadas. Contudo, para recuperar o mesmo nível de empregos de antes da crise Caxias ainda precisa gerar mais de 17 mil posições com carteira assinada.
Além de Vacaria e Caxias, outros dois municípios da Serra figuram entre os dez que mais geraram empregos no Rio Grande do Sul na arrancada de 2019: Bom Jesus e Bento Gonçalves.