Se a indústria é a protagonista da retomada do mercado de trabalho em Caxias do Sul, o papel de coadjuvante fica com o setor de serviços. Durante 2018, a atividade se postulou como a segunda que mais contratou. De janeiro a dezembro, foi responsável por abrir 1,1 mil novos postos com carteira assinada no município, conforme o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). O resultado acabou influenciado pela própria retomada da indústria, que fez com que mais dinheiro circulasse na cidade, e também por novos empreendimentos que a cidade recebeu no período.
Foi justamente em uma empresa que chegou a Caxias no ano passado que Arlete Fogaça, 45 anos, conseguiu uma vaga depois de seis meses fora do mercado. Ela trabalha como camareira no hotel Dall’Onder Axten desde a inauguração do estabelecimento, em setembro passado. A situação dela acaba ilustrando também uma outra faceta do setor de serviços. O ramo tem absorvido parte da mão de obra oriunda da indústria que perdeu o emprego durante a crise e buscou novas alternativas fora das fábricas.
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Arlete trabalhava no almoxarifado de uma metalúrgica em Caxias até o início do ano passado, quando a empresa cortou parte do pessoal por contenção de gastos. Assim que foi demitida, passou a distribuir currículos, mas ninguém a chamava.
- Passava o tempo e eu tinha o sentimento de que estava me tornando obsoleta para o mercado. Não conseguia nada – rememora.
Um dia, quando foi fazer um processo seletivo para uma das tantas vagas que havia se candidatado, foi informada de que haveria a possibilidade de conseguir uma colocação no Dall’Onder como camareira. Apesar de nunca ter exercido a função anteriormente, aceitou o desafio. Aprendeu o ofício na prática. E não se arrepende.
- Conseguir o emprego foi uma mistura de emoção e realização. Para quem está procurando emprego, eu diria que, se tiver a chance de experimentar uma outra área, que dê uma chance para si próprio. Pode ser gratificante. Para mim está sendo – aconselha.
A vice-presidente de Serviços da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias do Sul (CIC), Maristela Chiappin, constata que o setor foi um dos últimos a sentir a crise, mas agora engatou uma trajetória de crescimento. Por isso, os negócios do segmento devem continuar abrindo vagas neste ano.
Comércio tem recuperação tímida
Dos principais setores da economia caxiense, o comércio é o que está com a recuperação mais lenta na geração de empregos. Em 2018, a atividade abriu 89 vagas com carteira assinada na cidade. Mesmo pequeno, o resultado positivo só ocorreu em função das contratações realizadas na reta final do ano. Até outubro, o saldo na criação de postos de trabalho no Caged era negativo. Às vésperas do Natal, as lojas acabaram reforçando as equipes para dar conta da demanda, o que reverteu o quadro.
A recuperação tardia, na comparação com outros setores, é tida como natural pelo presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Caxias do Sul (CDL), Ivonei Pioner. A avaliação é de que as vendas nas lojas de Caxias sempre começam a deslanchar após a indústria reagir. Isso porque boa parte dos consumidores caxienses está empregada justamente no setor produtivo.
- Vimos a indústria crescer e isso foi passando para o varejo. O comércio começou a contratar já pensando na continuidade da melhora da economia em 2019. Agora, a expectativa é de abertura de mais vagas – afirma Pioner.
A vendedora Franciele Carvajal, 30 anos, acompanha de perto os recentes altos e baixos do setor em Caxias. Natural de São Gabriel, chegou à cidade em 2008. Era um período de bonança, no qual havia farta oferta de emprego nas lojas da cidade. O cenário contrasta com o vivido recentemente.
- Antes da crise, as empresas contratavam bastante. Tu podias escolher emprego. Hoje, dá para notar que estão mais exigentes para contratar vendedores. Estão buscando pessoas mais responsáveis e experientes – compara.
Durante a recessão, em 2015, Franciele enfrentou o primeiro baque desde que chegou em Caxias, ao ser demitida da loja de calçados em que trabalhava. A justificativa alegada era a necessidade de redução de custos, por conta da queda nas vendas.
Por sete meses, ela entregou currículos em dezenas de estabelecimentos, quando apareceu uma oportunidade. A vendedora ficou mais de dois anos na empresa, sendo desligada em maio do ano passado. E lá foi Franciele disparar currículos mais uma vez. Em setembro, a Magnabosco contratou a vendedora para atuar no setor infantil. Contente com a recente função, Franciele agora almeja construir uma carreira de longo prazo dentro da empresa.