O cenário é belo e impressiona. Os pessegueiros floridos embelezam os vales no interior de Caxias do Sul. Por trás dele, no entanto, se esconde o temor dos agricultores de que uma forte geada transforme essa paisagem colorida em cinza. Os termômetros estão marcando temperaturas muito elevadas para esta época do ano. Ontem, a máxima ficou ao redor de 22ºC.
Mesmo que grande parte das pessoas esteja satisfeita com o calor fora de época, o comércio e a agricultura estão sendo diretamente afetados. Na localidade de Cerro da Glória, os pés de pêssegos estão revestidos de flores brancas e cor-de-rosa. A pequena fruta já está querendo se mostrar.
– Se a geada chegar, a quebra na produção será inevitável – prevê o produtor Nadir Luiz Rossi.
O agricultor já enfrentou a situação em 2015, quando o calor predominou nos meses de junho e julho. Em agosto, uma forte geada atingiu os pomares e os parreirais. A quebra chegou a 70%. O medo dos agricultores é de que a cena se repita este ano.Rossi tem quatro hectares de pêssego plantados e pretende colher 40 mil quilos da fruta. Se o tempo ajudar. Desses, um hectare e meio é das variedades mais precoces e que já exibem as flores e pequenos frutos. Se o calor persistir, o problema avança para as produções de uva, caqui e ameixa.
– Se isso acontecer, o investimento de R$ 35 mil vai por água abaixo – prevê ele.
O engenheiro agrônomo da Emater Enio Ângelo Todeschini também está preocupado com o veranico – que geralmente acontece em maio.
– A ausência de umidade e as temperaturas elevadas condicionam para o florecimento antecipado, até mesmo em altitudes medianas e variedades precoces –destaca Todeschini.
Segundo ele, além de exigir a intervenção na poda de inverno de forma apressada e que dificulta sua execução adequada, o atual panorama estressa e cria uma atmosfera de preocupação. O plantio de novos pomares também está sendo afetado.
– Para quem já plantou, as mudas requerem suplementação hídrica frequente para não perecerem e os que ainda não implantaram o pessegueiral estão retardando ao máximo a transferência do viveiro para o pomar, sob riscos de perder as mudas por desidratação.
Todeschini informa que as plantações de cebola, alho e arroz também estão sendo prejudicadas. A escassez de chuva e frio, diz, força a suplementação hídrica frequentemente.
– Tratamentos antifúngicos estão sendo aplicados para a prevenção de fitopatias, assim como o controle de ervas espontâneas através da capina química. O transplantio das variedades precoces está sendo suspenso, devido a baixa umidade do solo. Ele informa que, nas áreas destinadas à implantação da cebola crioula, principal variedade produzida na região, os agricultores estão fazendo o pré-preparo dos canteiros, com a incorporação de adubos orgânicos, principalmente a cama de aviário.
Clima
Calor fora de época prejudica lavouras e comércio em Caxias do Sul
Temperaturas elevadas e preocupação com geada futura leva temor a produtores de pêssego, uva e ameixas
Ivanete Marzzaro
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