Um encontro amistoso, regado a xícaras de chá no Salão Oval da Casa Branca, encerra nesta manhã uma das transições mais controversas da história recente americana e marca a volta do Partido Republicano ao governo dos Estados Unidos.
Quando Barack Obama e Donald Trump se encontrarem para o início do tradicional rito de posse, 71 dias terão se passado desde a primeira reunião entre os dois, em 10 de novembro, logo após a vitória do magnata.
À época, os dois deixaram nítido o desconforto. Até o aperto de mãos foi frio. Desde então, a tensão diminuiu, mas não apagou as marcas deixadas por uma campanha agressiva, de ataques pessoais e cercada de boatos. Em comícios, Obama repetia que Trump não estava à altura de um presidente americano. Trump chamou Hillary de trapaceira e Obama de “uma pessoa não muito diferente dela”. E completou:
– Vou acabar com o pântano da política de Washington e farei a América ser grande novamente.
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Obama e Trump são opostos num país polarizado entre democratas e republicanos. Para deixar mais claras as diferenças, Trump reafirmou que irá acabar com o chamado Obamacare, a universalização dos planos de saúde, bandeira da gestão democrata, numa medida que, segundo estimativas da imprensa americana, deixaria 18 milhões de americanos sem assistência médica. O modelo de atendimento à população que substituirá o atual não foi apresentado.
No plano internacional, a Rússia foi o motivo de desavença mais profunda entre Obama e Trump. Enquanto Obama se distanciou de Putin e impôs uma série de sanções a Moscou em razão do conflito entre Rússia e Ucrânia, Trump considera a Rússia uma parceria.
Área central de Washington foi isolada pela polícia
As primeiras medidas de Trump são mantidas em sigilo. Nem congressistas republicanos mais próximos ao novo presidente conseguem antecipá-las. Prova disso é a dificuldade que os integrantes do primeiro escalão do futuro governo estão encontrando nas sabatinas no Congresso.
Todos os membros do primeiro escalão da nova gestão passam, obrigatoriamente, por questionamento de comissões de senadores. Os novos secretários da Educação, Betsy Devos, da Saúde, Tom Price, e do Tesouro, Steve Mnuchin, foram duramente cobrados pelas promessas de campanha de Trump e não conseguiram explicar as primeiras providências do novo governo. A expectativa é de que, ao longo do final de semana, Trump anuncie medidas que dependem apenas do Executivo, sem exigência de aval do Congresso.
É possível que o perfil do governo fique claro com o discurso de posse. O texto foi redigido por Trump com ajuda de assessores, segundo Tom Barrack, coordenador do comitê de posse.
– O novo presidente sabe que precisa curar feridas e construir pontes. Ele dirá que será o presidente para todos os americanos, inclusive para os que votaram em Hillary Clinton – disse Barrack.
Na última entrevista à imprensa americana, Obama afirmou que poderá pensar em fazer considerações sobre seu sucessor somente depois de deixar o governo. Hoje, no entanto, por algumas horas, as diferenças vão desaparecer. Obama receberá Trump na Casa Branca para o início da troca de comando. Juntos, irão de limusine até o Capitólio, sede do Legislativo, distante cerca de dois quilômetros da residência presidencial. Logo após o juramento e o primeiro pronunciamento, Trump e a primeiradama vão percorrer de carro o caminho de volta até a Casa Branca.
Na quinta-feira, toda a área central, num raio de quatro quadras a partir da sede do governo, foi isolada, impedindo a circulação de veículos. Grades foram instaladas em praticamente todos os prédios públicos, que passaram a ser guarnecidos por equipes de policiais.