Ao contrário de outros escândalos de corrupção que estouraram no país, o caso da Petrobras atualmente investigado pela Polícia Federal por meio da Operação Lava Jato conta com um agravante: está impactando diretamente na vida de trabalhadores. Em Charqueadas, por exemplo, estima-se que mil trabalhadores podem ser demitidos nos próximos dias, pois a estatal rescindiu o contrato com a Iesa Óleo e Gás, ex-fornecedora da Petrobras.
Na Serra, o reflexo direto é menor, mas também existe, já que a região conta com empresas que fornecem produtos para a indústria naval. Conforme Getulio Fonseca, presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Caxias do Sul (Simecs), companhias que produzem tubulações, válvulas para poços de profundidade e estruturas de aço de alta resistência podem ser afetadas com o escândalo.
- Ainda é cedo para medir os impactos, mas todas as empresas que fornecem para a cadeia naval devem notar algum reflexo - analisa Fonseca, explicando que além de Caxias algumas companhias de Veranópolis e Nova Bassano também contemplam itens com potencial prejuízo.
Na indústria de plástico da Serra, acredita Jaime Lorandi, presidente do Sindicato das Indústrias de Material Plástico do Nordeste Gaúcho (Simplás), não deve haver impacto direto. O dirigente conta que, embora parte dos insumos do segmento tenha como matéria-prima o petróleo, os preços são medidos internacionalmente, com base no dólar.
O maior reflexo do escândalo, porém, é indireto e abrange todo o setor produtivo. A confiança do empresário brasileiro, que já atinge níveis baixos, deve reduzir ainda mais.
- O descrédito na economia está muito grande. Com esse caso da Petrobras, o empresário tende a segurar mais ainda o investimento. Ele pensa: "vou esperar a bagunça passar para ver o que eu faço" - relata Fonseca.
A imagem do Brasil perante o investidor internacional também se prejudica. No final, analisa Fonseca, o brasileiro sofre duas vezes: com a corrupção e com os impactos na economia.