
Nos últimos dois anos e meio, a artista plástica goiana Patrícia Mesquita, 45, atuou como professora de artes na rede estadual de Bento Gonçalves. Radicada no Rio Grande do Sul há 10 anos, Patrícia considera que a experiência com os estudantes da Serra, em especial adolescentes do ensino médio e adultos do EJA, foi transformadora em diversos sentidos. Tanto no pessoal, a partir do contato com realidades muito diversas, quanto no profissional, reaproximando sua persona artística das estéticas que são algumas de suas maiores inspirações: a arte urbana e o hip hop, tendo o pai do grafite, o estadunidense Jean-Michel Basquiat, como sua principal referência.
Com mais de 30 anos de carreira e dezenas de exposições realizadas em galerias de diversos estados brasileiros, Patrícia destaca que sua aproximação com as periferias se deu após um período em que morou em Londres. Na Inglaterra, a menina que cresceu estudando piano e fazendo aulas de ballet trabalhou como doméstica e lavou pratos para garantir o próprio sustento. Uma proximidade com a vida real que modificou também o seu fazer artístico.
O resultado do mergulho de Patrícia no universo das periferias de Bento pode ser conferido a partir desta terça-feira na mostra Diários de Afeto, que reúne 15 quadros e uma escultura. Nas telas pintadas com tinta acrílica, cujo tamanho varia entre 20cm e 30 cm de altura e largura, a artista mistura fragmentos das histórias ouvidas ou vividas ao lado dos alunos com referências do seu próprio universo, que define como multicolorido.

– Sou uma pessoa colorida, não consigo ser monocromática. Minha alma é colorida assim como são minhas roupas, meus cabelos, minhas tatuagens... sempre procuro me expressar através das cores não apenas na minha linguagem artística, mas também no meu modo de ser – comenta a goiana, que foi a responsável por levar a Bento o primeiro slam (campeonato de poesia falada, comumente associado à cultura hip hop).
Além dos quadros, onde também se percebe a influência da arte rupestre na produção criativa de Patrícia, a mostra apresenta uma escultura manipulável, que dialoga com o próprio nome da exposição. Trata-se de um livro (ou um diário) feito de pelúcia, que, conforme é manuseado, faz carinho na pessoa que o tem em mãos.
– Enquanto as obras pintadas não podem ser tocadas, essa escultura, pelo contrário, foi feita para as pessoas tocarem e receberem de volta um pouco de carinho, trocando afeto com o livro. É como um legado do carinho que tenho por esse período que vivi em Bento – conta Patrícia.