Maria Cristina Tiburi Pisoni assumiu o Departamento do Livro e da Leitura, ligado à Secretaria Municipal de Cultura de Caxias do Sul, no início de janeiro, mas com certeza não é uma novata na área. Com quase 25 anos atuando no município – parte desse período em sala de aula –, dirigiu a Biblioteca Municipal Dr. Demetrio Niederauer de 2007 a 2015, envolvendo-se em projetos de incentivo à leitura e, também, na organização das últimas Feiras do Livro. A experiência vai ser importante agora, na chefia do departamento, que engloba o Sistema de Bibliotecas e o Programa Permanente de Estímulo à Leitura (PPEL).
– A prática a gente já tem. O que queremos é fortalecer nossos projetos, fomentar e promover cada vez mais meios de fazer com que as pessoas leiam – afirma.
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Cristina faz questão de destacar que não fará o trabalho sozinha: no PPEL, terá a parceria da nova coordenadora do programa, Heloísa Coin Bacichette, enquanto as bibliotecas estão agora a cargo de Cássio Felipe Immig, ambos também integrantes de longa data da equipe. A prática do trio significa que o que vem dando certo será mantido, mas não impede mudanças. A primeira delas é o agrupamento dos diversos programas desenvolvidos em cinco eixos.
– Os programas são os mesmos, mas estão sendo reorganizados, pois muitos deles tinham os mesmos objetivos – explica Cristina.
Mudanças também devem vir na questão da Feira do Livro, pelo menos no que diz respeito à participação dos diversos setores:
– Vamos nos utilizar de um processo bem democrático para que ela aconteça – garante.
Confira a entrevista:
Quais as primeiras ações do departamento para 2017?
Criamos um slogan chamado Leitura é Dez, que abrange cinco eixos. Eles reúnem projetos que já desenvolvemos e têm o mesmo objetivo, o mesmo foco, por isso não há por que estarem separados. O Tapete Mágico vai ser o eixo maior e incluir o Passaporte da Leitura, os cursos de formação de contadores de história, a Maratona de Contação de Histórias, o Projeto Monteiro Lobato. Ele é mais voltado a professores e estudantes e vai estar por todos os lados, com o foco na formação e na contação de histórias. O segundo eixo são os Círculos de Leitura, que compreendem a leitura e narração de histórias. São aqueles projetos de inclusão social que desenvolvemos com instituições como o Hellen Keller, a FAS, o Casemi, o Case, o João Prataviera, e com a comunidade em geral. No terceiro eixo englobamos a Leitura em Movimento, em que a leitura vai estar circulando: as Malas de Leitura, o Livro Livre, as Bolsas Amarelas, a Arte em Movimento. Tem ainda o Leituras Compartilhadas, que vai envolver o departamento com as demais secretarias, especialmente a de Turismo, a de Meio Ambiente, a de Esporte e Lazer, a de Cultura e a de Educação. E o quinto eixo seria o trabalho com a Feira do Livro, que inclui o Proler. Esses programas todos são na verdade ações de incentivo, fomento e promoção da leitura, que são as palavras-chaves de nosso trabalho.
Esses eixos já estão valendo?
Sim. A gente iniciou, no mês de janeiro, os estudos para cada um deles. Inclusive já estamos com algumas programações encaminhadas. No dia 18 de abril, para comemorar o mês do livro, está previsto o Tapete Mágico. E já estamos fazendo as primeiras tratativas para realizar, provavelmente em maio, o 1º Encontro Internacional de Contadores de Histórias e a 9ª Maratona de Contação de Histórias de Caxias do Sul. E junto com a maratona e o encontro estaremos fazendo a formação dos professores que trabalham nas bibliotecas escolares. Só falta definir algumas datas, junto com a Secretaria de Educação (Smed). A ideia é transformar esses professores em agentes de leitura, lá na ponta, pois precisamos urgentemente de novos formadores nessa área.
Como fica o Livro Livre (programa de troca de livros)?
Ele vai estar cada vez mais forte. É um dos projetos que faz parte da Leitura em Movimento, e é forte porque tem um custo baixo e bastante procura, inclusive em atividades das outras secretarias. Neste momento, ele funciona na biblioteca. Mas a nossa intenção é trabalhar em parceria, por exemplo, com a Secretaria de Esporte e Lazer (Smel). A Smel realiza várias atividades em parques, e a ideia é levar o Livro Livre como lazer para esses parques, quando tem alguma atividade. Temos a Semana do Meio Ambiente, ali também a gente vai levar o Livro Livre e as contações de histórias, além de fazer parceria com outras secretarias que tenham atividades em parques e praças. A ideia é estar na entrada do cinema, uma vez tínhamos (Livro Livre) na entrada do cinema do Centro de Cultura Ordovás, isso a gente vai resgatar. Ele será um projeto itinerante, saindo da biblioteca e passando a circular.
Que outro projeto você destacaria?
O Arte em Movimento, que é um projeto maravilhoso, temos todo um acervo guardado nas gavetas da biblioteca ou do museu, e as pessoas acabam não vendo. Queremos expor toda essa documentação na Arte em Movimento. Já temos várias coleções, que são a do Dom Quixote, exposta na entrada do setor empréstimo da biblioteca, todo um acervo sobre Caxias do Sul, o acervo da (ilustradora) Karen Basso, vários acervos do Juventino Dal Bó, dos primeiros poetas caxienses... São vários documentos que estão guardados e que a gente pode transformar em arte, e essa é a ideia do Arte em Movimento. Queremos levar isso para as escolas e outros locais em que várias pessoas circulam.
As bibliotecas comunitárias permanecem?
Permanecem. Temos hoje 22 bibliotecas em bairros, e todas vão passar por um processo de reavaliação e revitalização, a partir de março. Vamos fazer uma visita, ver a quantas anda cada biblioteca, se o bairro tem necessidade de continuar com ela, se a gente vai abrir em outros bairros... Depende do interesse, se a comunidade está realmente tendo resultados positivos, pois às vezes a biblioteca está lá e não há mais interesse, enquanto surgiu essa necessidade em outro bairro. Mas a ideia é permanecer com todas elas, e ampliar. Além disso, vamos fazer cursos de formação de agentes de leitura, o que está dentro do projeto das bibliotecas comunitárias, e procurar renovar o acervo.
Recentemente foi anunciada uma parceria com a Smed. Fale um pouco sobre ela.
Agora a biblioteca municipal vai agregar a biblioteca da Smed. Os professores, na Smed, tinham acervo de 15 mil livros; aqui, eles vão ter uma diversidade de 135 mil livros, que é o acervo aproximado que temos atualmente. Além disso, a ideia é que a gente lance este ano um projeto, já em andamento, de integração de todas as bibliotecas num sistema online bem eficiente, no qual as pessoas poderão fazer as consultas sobre os livros disponíveis de casa. Quanto à Smed, já vínhamos numa parceria muito grande, a maioria dos cursos de formação feitos para os professores eram feitos por nós, da Cultura. Tanto que a maioria dos projetos que acabei de falar, que agrupamos nos eixos, são desenvolvidos com alunos da rede municipal.
Que outras novidades vêm por aí?
Temos a revitalização da biblioteca parque. É toda uma nova estrutura que a gente está fazendo, juntamente com a orquestra. A biblioteca passa a funcionar como uma casa cultural, não somente biblioteca; a orquestra já faz os ensaios lá, e a própria casa em si, o espaço físico, está atendendo a outros tipos de arte. Pretendemos colocar exposições na biblioteca parque, torná-la uma área cultural com mais atividades. Vamos lançar ainda o Biblioteca Vai à Feira, com a Cesta de Contos, pois como temos, às terças, a feira do agricultor, muitas crianças ficam por ali, e a gente pretende fazer esse projeto com as crianças, trabalhando contos e temas voltados à alimentação saudável. Além disso, a biblioteca municipal completa 70 anos, em outubro, e queremos tornar essa data muito festiva. A ideia é que em outubro se faça uma grande comemoração. E pretendemos dinamizar o trabalho desenvolvido na biblioteca pública e na biblioteca parque, torná-las mais ativas e atuantes em todas as áreas. A gente já começou neste domingo, com a participação no evento de abertura do ano da cultura, com contação de histórias e piquenique literário.
Aliás, o horário da biblioteca municipal (até as 17h, e fechada aos sábados) não limita o acesso do público?
Isso é algo que muita gente vem nos pedir. Por isso já estamos, enquanto Secretaria da Cultura, vendo essa necessidade de que a biblioteca tenha um horário diferenciado. Então temos a intenção, sim, de, a partir de março, prolongar o horário de abertura da biblioteca. É muito pouco, o pessoal do comércio, que trocava livros conosco, vem reclamando, pois saem do trabalho lá pelas 18h30min, e os professores, quando saem das escolas, também não conseguem chegar até aqui (antes de fechar). Não está definido até que horário vai ficar aberta, mas a gente pretende ampliar, já está na pauta. Também retorna a abertura aos sábados pela manhã, igualmente a partir de março.
E sobre o quinto eixo do departamento, a Feira do Livro, o que já está sendo pensado?
Vamos procurar conversar muito com as pessoas, com a comunidade, com os livreiros. É um processo de conversação entre todas as partes envolvidas na Feira. Ainda não se tem nenhum apontamento concreto, mas com certeza vamos dar o melhor encaminhamento possível para que ela ocorra de uma maneira bem tranquila, com certeza consultando a população e utilizando-se de um processo bem democrático para que ela aconteça.
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