Concorrente de A Teoria de Tudo - filme sobre o físico Stephen Hawking, que ainda não estreou por aqui - na disputa por quatros troféus do Oscar, o longa O Jogo da Imitação carrega outra similaridade com o primeiro título: retrata a história real de uma mente brilhante. Dirigido por Morten Tyldum, o drama em cartaz em Caxias do Sul deve surpreender espectadores, seja pelo impacto de sua trama, seja pela atuação sensível de Benedict Cumberbatch. O ator está no mínimo sensacional na pele de Alan Turing, matemático inglês contratado para decifrar os códigos de comunicação utilizados pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.
Mas se Hawking é um personagem super popular e reconhecido mundialmente por suas ideias, O Jogo da Imitação ganha um ponto a seu favor por jogar luzes num protagonista praticamente desconhecido do grande público (pelo menos o brasileiro). Isso também abre as possibilidades para a construção da persona Turing, que ocorre sem pressa na telona. De início, o espectador se depara com um matemático arrogante e cheio de si, mas aos poucos vai descobrindo facetas cada vez mais humanas e dramáticas. Dono de um raciocínio quase impraticável até para os colegas que o acompanhavam na missão de decodificar a comunicação nazista, o matemático criou uma máquina capaz de obter êxito na missão ultra secreta. Mas, depois do grande feito, não colheu os louros exatamente. Solitário, suicidou-se aos 41 anos.
A construção da Inglaterra durante a Segunda Guerra é outro ponto positivo do filme, com carros, casas, bicicletas, uniformes, tudo impecável. A máquina criada por Turing, protótipo do que hoje conhecemos por computador, é um capítulo à parte. Visível no cartaz do filme, a imponente engenhoca deve ter dado um trabalhão para os responsáveis pela cenografia, mas valeu a pena. É incrível vê-la em funcionamento. O filme também passeia pelas décadas de 1920, com um Turing adolescente descobrindo o amor, e 1950, com o protagonista depressivo e vítima de um tratamento assustador aplicado em homossexuais no Reino Unido do passado, a castração química.
O longa ainda carrega passagens mais leves, que dão movimento à história. Craque da criptografia, Turing era, no entanto, incapaz de entender os códigos humanos (sobretudo os femininos), usados no dia a dia. Isso motiva cenas interessantes.
Pode ser pela inteligência assustadoramente engenhosa, pela contribuição real que deixou à história (estima-se que a máquina criada por ele tenha abreviado a guerra em pelo menos dois anos, além de ter poupado milhões de vidas), ou mesmo pela atuação emocionante de Cumberbatch; fato é que o espectador sai do cinema ao mínimo feliz por ter descoberto um personagem tão rico. Se era para prestar uma homenagear póstuma a Alan Turing, O Jogo da Imitação mostra-se muito mais adequado do que o perdão real (pela condenação por homossexualidade) concedido pela rainha Elisabete II, no tardio 2013.
O filme recebeu oito indicações ao Oscar 2015: filme, ator (Benedict Cumberbatch), diretor (Morten Tyldum), roteiro adaptado, trilha sonora, atriz coadjuvante (Keira Knightley), edição e design de produção
Cinema
Com oito indicações ao Oscar 2015, "O Jogo da Imitação" está em cartaz em Caxias
Longa aborda história real de um matemático que ajudou a decifrar códigos usados por nazistas na Segunda Guerra
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