Para Eddie Taylor Jr., tocar o blues certamente é coisa séria. Talvez por ter às suas costas no palco as bandeiras dos Estados Unidos e de Chicago, sua cidade natal, talvez por reverência aos mestres que nos deram os clássicos que ele interpreta em sua guitarra ou apenas por temperamento, ele não sorri. Mas nada disso tornou o show na noite de quinta-feira, em que dividiu o palco com o conterrâneo Lurrie Bell no 10º Mississippi in Concert, menos memorável.
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Vestindo largas roupas brancas, um estiloso sapato alviazul e palheta presa ao dedão da mão direita, o filho de Eddie Taylor, um dos pioneiros do blues de Chicago, cumpriu com o que havia prometido em entrevista dias antes: um show recheado de clássicos. Começou com Everyday I Have The Blues (B.B. King), passou por Hoochie Coochie Man (Willie Dixon), chegou a Im Tore Down (Freddie King), tudo acompanhado de Nico Smoljan & The Shakedancers, a competente banda de apoio já amiga íntima da cena do blues caxiense.
Sério, sem ser carrancudo, Eddie Taylor Jr. vai ficar para sempre na memória dos blueseiros que pagaram R$ 40 para ver a sobriedade e precisão dos seus solos (nada caro, preço de um rodízio de pizza, que é prazer bem mais efêmero). Se o filho prefere não brincar com o ofício ao qual o pai deu a vida, que mal há nisso?
Após um rápido intervalo em que o público, que não chegou a lotar o Teatro Pedro Parenti, mas compareceu em bom número, recebeu doses de licor de ervas e saquinhos de pipoca dos apoiadores do evento, foi a vez de Lurrie Bell, filho do grande gaitista Carey Bell, adentrar o palco e trazer um pouco de descontração para o concerto.
Enquanto Taylor Jr. canta com voz serena e aveludada, o vocal de Bell é rasgado e sujo, condiz com sua cara de Lobo Mau de chapéu coco. Mais carismático, seus solos arrancaram aplausos da plateia, que vibrou com pedradas como Messin With The Kid (Junior Wells), Rock Me Baby (B.B. King) e a sua Blues In My Soul.
Bell e Taylor Jr. tocam juntos e se alternam nos solos com a naturalidade de velhos amigos que são, ainda que o primeiro seja 12 anos, a maturação de um bom uísque, mais velho. São dois exímios guitarristas, que orgulham a bandeira da terra onde o blues foi eletrificado. Ao final, após duas horas de show, a sensação é de que só faltou um em meio a tantos blues de todos os tempos que a dupla revisitou: Sweet Home Chicago.
Blues
Com bandeira da terra natal no palco, Eddie Taylor Jr. e Lurrie Bell fazem da Casa da Cultura, em Caxias do Sul, um pedacinho de Chicago
Guitarristas foram as atrações do 10º Mississippi in Concert, na noite de quinta-feira
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