Uma bela mulher adentra à sala, deixa todos inebriados. Você consegue imaginar uma mulher assim? Como você imagina que essa mulher seja? Que traços poderia ter uma criatura que traz consigo tanta sedução?
Creio que quase todos nós, quando pensamos em mulheres bonitas, podemos descrever praticamente a mesma criatura. Temos como belo aquilo que nos foi ensinado, aquilo que foi montado e apresentado a nós como tal. Compramos a ideia há tempos e ainda norteamos nossa vida por caminhos velhos que nem nossos são.
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Lamentável, né? Sim! Pra nós, mulheres, sobretudo. Pra nós, mulheres-mães, então, um martírio. A beleza como ela é concebida ainda hoje não compreende uma mínima parte das mulheres que sobre a terra pisam.
Uma mulher bonita para a sociedade ainda é, em suma: rosto angelical, altura mediana, seios firmes, sem pelos, cintura fina e bunda farta – mas nem tanto –, cabelos longos, geralmente. E magra! Esse é o conceito muito aplaudido mundo afora, basta ver os inúteis concursos de beleza que insistem em não morrer.
Agora, que tal esmiuçar essas características?
O rosto angelical é muito mais que um conjunto de traços que compõem uma face, ele nos diz que além de ter certo tipo de olho, boca e nariz, é para sorrir, ninguém quer uma mulher carrancuda. Mas, também, não rir muito, uma boa mulher não tem feições debochadas.
Altura mediana, sim, porque uma mulher não pode estar acima de um homem.
E os seios firmes? De onde tiraram que seios se mantêm para além da gravidade e da amamentação? Peitos são, basicamente, gordura, glândulas mamárias e colágeno. Já nascem com tendência a cair. Se passados por um período de lactância então… Sendo assim, seios só com silicone, punto e basta.
Sem pelos, naturalmente. Uma mulher não pode ter pelos. Não deve! Nós que lutemos em torturantes sessões de depilação mensal.
Bunda farta e cintura fina. Juntas, num mesmo corpo? Sério? Isso é quase biologicamente impossível.
Cabelos, longos, ou, pelo menos, médios. Curtos, nunca!
E, magras. Mulheres precisam ser magras, mas não muito.
Vale um adendo importante aqui: todas essas características não abarcam mulheres negras. Para uma preta ser considerada bonita, ela precisa ser o mais branca possível.
Eu sei que você vai me dizer que não é bem assim, que isso tem mudado. Vou concordar, mas vou afirmar que essa ainda é a regra, basta olhar nas imagens que representam as mulheres na publicidade.
Sabe, ser bonita de acordo com o padrão imposto não é um privilégio, é um fardo. Eu passo, sou muito mais a minha própria beleza.
Finalizo, deixando a minha concepção de mulher bonita: ela anda pelas ruas em segurança, escutando no fone de ouvido a música que mais gosta, veste a roupa que se sente bem, trabalha com aquilo que quer, pôde sonhar desde sempre, ela tem vez e voz. Em seu relacionamento é uma parte ativa das decisões, ama na mesma medida que é amada. Carrega um riso frouxo de quem sabe que tem valor.