Nada trará de volta as lágrimas vertidas por aqueles que perderam seu entes queridos. Nada apagará de suas memórias os momentos onde, lentamente, foram assistindo suas pessoas ficando no passado, se tornando apenas lembranças. Nunca serão compensados os abraços que não podemos dar em quem amamos. Aquele vazio entre nós, impelido pelo distanciamento social, nunca será preenchido. N’outra possibilidade, nada apagará o medo e a incerteza perante ao futuro, que trazemos, cá, dentro de cada célula do nosso corpo agora.
Não vamos nos enganar, não há necessidade: nada será como antes! É impossível passar por uma pandemia mundial e, nos pós, seguir como se não tivéssemos sido tomados por uma hecatombe. Sim, muitas coisas idas. Sim, tantas ainda virão. Correndo, nos atropelando. Os números de mortos e infectados ainda assombrarão nossos sonhos por uns anos. E tá tudo bem! Porque o que nos dói é nossa humanidade gritando por saber da dor dos outros. É a coletividade sangrando.
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Me pego pensando em como será o mundo no amanhã e, definitivamente, não espero o que já foi. Estou sedenta pelo novo. Dias, dias e dias novidadeiros. Quero sempre que o futuro seja melhor que o passado. É que sou irremediavelmente otimista. E, confesso, gosto disso em mim. A vida tem mais sentido quando cremos que tudo pode ser melhor num amanhã, mesmo que esse amanhã não possa ser vislumbrado no horizonte. No entanto, sabemos que ele existe e está lá, pleno, nos esperando, repleto de afagos, compaixão e prosperidade.
Um futuro onde superamos um vírus mortal, aprendemos lições valiosas para a nossa gerações e as que estão no porvir, e, que, possamos seguir sendo mais amorosos e empáticos. Assim, honrando cada momento sôfrego vivido. E, acima de tudo, honrando cada pessoa que partiu rumo ao infinito nesse trem sem volta.
Momentos históricos sombrios, como esse em que vivemos, sempre trazem dor e morte, mas trazem, também, ressurreição e luz. O sol voltará a brilhar ainda mais forte. Sabemos disso, foi assim após guerras e epidemias que ficaram lá atrás no tempo. Contudo, para nos prepararmos para o futuro, vale a pena - ao menos tentar - enxergar os avanços conquistados em meio a tanta dor e instabilidade desse árduo 2020. Um novo conceito de existir vem surgindo: a vida à frente do capital; a cura coletiva se sobrepondo à cura individual; a ciência como defensora da humanidade; a saúde da população, enfim, em pauta; a educação tradicional em cheque; uma onda tecnológica revolucionária em processo; e nós, reinventando o modo como nos relacionamos, sentindo falta de contato humano - pois é ele que, de fato, nos humaniza.
Sabem, não é fácil crer no amor em tempos tão dolorosos, seguir com fé nesse cotidiano desarranjado. Por vezes, a estranheza do agora toma conta de mim. Então, luto com bravura pra seguir na batalha, não me entregar. Luto por mim, pelos meus e por toda a humanidade que carece, e muito, de cuidados.
Mas, como sei que nada será como antes, além de lutar por dias melhores, eu rezo. Em meio à tempestade, paro, miro o céu, envio preces e mais preces aos deuses e deusas, implorando por uma esperança viva.
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