Em algum momento da história um homem resolveu dizer a uma mulher: você nunca vai ser feliz com ninguém! Eu já ouvi essa frase umas duas ou sete vezes. E, desconheço aquela, em idade adulta, que nunca ouviu. Essa frase nos é dita porque acredita-se que nós, mulheres, só somos plenamente felizes ao lado de um homem. Por este motivo, praquele que disse é tão fácil nos condenar à tristeza.
Isso não passa de um ideal de felicidade feminina que criaram para nós. Foi usado por séculos para nos manter aprisionadas dentro de relacionamentos ou convenções sociais, que nunca contemplaram nossas vontades, necessidades ou bem-viver. Dependentes, silenciosas, recatas, assexuadas. Assim nos queriam, assim nos querem. Assim não somos mais.
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Uma mulher que desfruta de sua liberdade, por mais simples que seja esse anseio, ofende a sociedade. É mal vista, mal quista, não é mulher para casar. O espanto, é que atualmente ainda lidamos com conceitos tão arcaicos. A mulher deixou de ser propriedade do homem há tempos. Se é que já foi, pois nossos corpos foram aprisionados, mas e nosso espírito? Esse sempre gritou por liberdade para o mundo surdo.
Quando ouvimos que nunca seremos felizes com ninguém, dói, e dói muito. Essa dor vem de sermos seres sociais com uma gigante carga romântica introjetada, a nos dizer que quem entrasse amorosamente em nossas vidas, ali permaneceria e tudo ficaria bem. E, se algo desse errado, aquela pessoa, a qual trocamos juras de amor, planos e fluidos, jamais nos magoaria. Mas magoou, infelizmente. E outros vieram e virão, a norma segue.
Podemos romper esse ciclo. Podemos, quando nossa expedição vital for a busca por nós mesmas. Encontrar o ser que nos habita em sua totalidade, com erros e acertos, defeitos e qualidades. Aceitando toda nossa história, nos perdoando pelo que passou, acima de tudo.
Não digo também que uma mulher só é feliz sem um relacionamento. Não digo, nem poderia, eu acredito no amor. Quero para mim! Creio que o amor nos complementa, nos faz melhores. No entanto, afirmo, não podemos esperar felicidade para nós atrelada à presença do outro. Uma mulher não é feliz porque tem ao seu lado um homem, mesmo que seja um dos bons. Essa mulher é feliz porque se dá bem consigo e lida com autonomia e afeto com as situações impostas pelo relacionamento.
Daí, vou me embrenhando e entrando à sua vida, peço licença. Se você está solteira, como eu, vá se acostumando a ser sua melhor companhia. No início vai ser estranho, mas vá ficando ao seu lado, se percebendo, se agradando. Faz para si aquelas coisas que ninguém faz, torne isso rotina. E, se você, está num relacionamento, faça o exercício de se afastar um pouco da vida a dois e olhar para si, veja se quem você é corresponde, de fato, a quem você quer ser. Essas pequenas coisas são gigantes, mas são elas que nos trazem para nós e nos permitem vestir nossa pele com dignidade. A isso dá-se o nome de plenitude.
E é sempre bom lembrar: nós somos mulheres, dignidade, força, afeto e criação nos saltam pelos poros. A gente merece ser feliz. Sozinhas e com o mundo todo.