
O Sol brilha em Touro. Vênus, seu regente, passeia por Gêmeos, desde a primeira semana de abril e até a primeira semana de agosto. Quatro meses! Para um planeta que cruza um signo em menos de um mês, esse excepcional longo tempo em Gêmeos – provocado pelo fenômeno da retrogradação do movimento aparente visto da Terra – enfatiza a necessidade de mais prazer, mais amor e mais beleza, sob o prisma da linguagem e da leveza geminianas. No contexto sombrio da pandemia, entre incertezas, medos e mortes, Vênus em Gêmeos é um respiro de arte, é a possível conversa prazerosa que revigora afetos, ainda que à distância. Então, tá: é sobre arte que devemos refletir, sem sisudez e com conexões livres, para fazer jus a Gêmeos.
Dizia Nietzsche, que era de Libra, também regido por Vênus: a arte existe para que a realidade não nos destrua. Agora, que o peso do real nos oprime e debilita, a arte se afirma como alento e até como tábua de salvação. Repare: o isolamento social tem provocado uma fruição maior de produtos artísticos. Livros, discos e filmes são listados nas redes sociais como pilares dos gostos pessoais. Artistas, de dentro de suas casas, exibem seus dons em apresentações intimistas na internet. Músicos cantam ou tocam uma mesma composição em espaços individuais mas em sincronia, na intenção de formar um mosaico harmonioso em vídeo. O venusiano dom da sociabilidade não se rende ao isolamento forçado. A arte se impõe como alimento.
Sim, a arte serve à vida e a sua complexidade. Por isso ofende sempre os servos da morte e os inimigos do amor. Arte é espelho da vida livre e em movimento. E pode reinventar o homem e criar uma outra história. Sobre isso, acabo de ver a bela série Hollywood, na Netflix. Com o pretexto de abordar os bastidores da era de ouro do cinema americano, a série é uma criativa discussão do papel da arte na construção do real. Que mundo teríamos hoje se o cinema, vertido em mercadoria pela indústria cultural do capitalismo, não tivesse que ceder aos ditames do mercado? Que outros espelhos possíveis caberia à arte oferecer para formar uma humanidade mais justa e inclusiva?
O poeta Ferreira Gullar dizia que a arte existe porque a vida não basta. O humano, com sua natureza complexa, sempre quer mais do que sabe ou possui. A arte explora nossos desejos, confessados ou não. Por sinal, Vênus, no mito, era mãe de Eros, vulgo Cupido. Arte, amor e desejo brotam da mesma fonte. E a arte, como linguagem, tanto nomeia nossos desvãos como os revela. Nas conexões de Vênus em Gêmeos, o citado Ferreira Gullar é um narrador na série Imagens do Inconsciente, que agora revejo na tevê. São documentários sobre o trabalho da psiquiatra aquariana Nise da Silveira, que ofereceu arte aos internos do manicômio e, por meio das pinturas e esculturas criadas, traçou impressionantes narrativas do misterioso mundo de dentro dos humanos.
Ah, o tal mundo de dentro! Quando um planeta fica em movimento retrógrado – como Vênus estará de 13 de maio a 25 de junho –, seu efeito se introjeta. Assim, Vênus não estará tão apta a oferecer seu charme sedutor nem sua estética natural para a graça do mundo externo. Antes, é melhor pensar sobre o que enche o nosso cotidiano de graça. Melhor reconhecer o que gera prazer e amor nas menores coisas. Melhor reinventar a rotina com leveza e alegria. Se os ventos lá fora oferecem perigo, pois que os ares de dentro exalem saúde, frescor e beleza. Com o espírito arejado, a tristeza jamais será senhora.
Leia também
Dia das Mães no distanciamento social: os efeitos psicológicos que o afastamento físico pode causar
Artista Lucas Leite investe no projeto Retratos da Quarentena
Biblioteca Central da UCS celebra 50 anos