
Para cantar, basta ter boa voz. Mas para encantar ao cantar, ah, aí tem que sentir de verdade cada sílaba entoada, tem que expor a alma sem receios. Essa música que não é só técnica, mas, antes de tudo, emoção derramada, é coisa de Peixes. Ela nos hipnotiza e nos conduz a outros níveis de percepção. O que é misterioso em nós vai se deslindando ao fluir das notas e das imagens sugeridas. E se é verdade que a música é mulher, o que dizer de uma cantora pisciana como Elis Regina? "Os sonhos mais lindos sonhei, de quimeras mil um castelo ergui". Como não viajar junto nessa doce ilusão? Elis cantando Fascinação inebria, entontece. Aliás, Elis cantando qualquer coisa é coisa de outros mundos.
Nascida a 17 de março de 1945, essa sensível gauchinha de Peixes com ascendente em Câncer também sabia ser "faca na bota". A Lua, em Touro (signo da voz), no alto do céu, recebia tensão do belicoso Marte. Competitiva, exigente e mandona, Elis soube construir com vigor uma carreira que ainda lhe assegura o título de maior intérprete de música popular do Brasil. Mercúrio, senhor da comunicação, transitando no impulsivo Áries, também contribuiu para o apelido de Pimentinha dessa baixinha tão invocada quanto genial.
O Sol pisciano, oposto aos regentes Júpiter e Netuno, era um transbordar de sentimentos, entre a euforia do êxtase e o tormento do desencanto. Era o pulsar do coração traiçoeiro: no tom, mas descompassado de amor; confiante, mas tremendo mais que as maracas; embriagado de uísque com guaraná, mas capaz de dançar numa corda bamba de sombrinha. Contradições de peixinhos que não cabiam em si. Ela mesma disse: "Aprendi que a vida é feita de dois lados. Você precisa conhecer o lado torto para conhecer o lado bonito. Então, nesse sentido, todas as experiências pelas quais nós passamos são absolutamente válidas."
Ah, tantas coisas aprendi nos discos da Elis! Do choro de abandono em Atrás da Porta ao riso vencedor em Vou Deitar e Rolar. Dores e alegrias do demasiado humano, esses peixinhos multicores da alma da gente.