Os chamados pela redução das tensões aumentaram, nesta segunda-feira (2), diante da ofensiva relâmpago dos rebeldes que tomaram vastas regiões do norte da Síria. Teme-se uma retomada dos combates em larga escala após mais de uma década de guerra civil.
O presidente da Síria, Bashar al Assad, denunciou nesta segunda uma tentativa de "redesenhar" o mapa do Oriente Médio, após a ofensiva relâmpago de grupos rebeldes.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, se mostrou "alarmado com a recente escalada de violência no noroeste da Síria" e pediu o "cessar imediato das hostilidades", afirmou seu porta-voz.
Por sua vez, os Estados Unidos instaram "todos os países" a trabalharem por uma "desescalada", enquanto a União Europeia "condenou" os bombardeios russos "contra áreas densamente povoadas".
O regime de Assad, aliado do Irã e da Rússia, perdeu o controle total de Aleppo pela primeira vez desde o início da guerra civil, em 2011.
A segunda maior cidade da Síria foi tomada por uma coalizão liderada pelo grupo islamista Hayat Tahrir al-Cham (HTS) e facções rebeldes sírias, incluindo algumas apoiadas pela Turquia.
Em resposta, aviões sírios e russos bombardearam setores controlados por estes grupos na província de Idlib, na região noroeste do país.
Diante da ofensiva surpresa, que começou em 27 de novembro, Assad buscou o apoio do Irã e da Rússia. Os presidentes Vladimir Putin e Masoud Pezeshkian expressaram seu apoio "incondicional" ao regime sírio, segundo o Kremlin.
Os ataques, nos quais a aliança de milícias rebeldes tomou o controle de várias localidades na província de Idlib, já deixaram ao menos 514 mortos, incluindo 92 civis, informou a ONG Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH).
Em uma conversa telefônica com seu homólogo iraniano, o presidente sírio declarou que a "escalada terrorista" busca "fragmentar a região, destruir seus Estados e redesenhar o mapa do Oriente Médio, de acordo com os interesses e objetivos dos Estados Unidos e do Ocidente".
- Potências envolvidas -
Os episódios violentos dos últimos dias na Síria, os primeiros com esta magnitude desde 2020, provocaram o retorno dos temores de um agravamento do conflito em um país dividido em várias zonas de influência e com inimigos apoiados por diferentes potências regionais e internacionais.
A Turquia, que faz fronteira com a Síria, o Irã, a Rússia e os Estados Unidos mantêm uma presença militar no país, cenário de uma guerra civil que começou após a violenta repressão de protestos pacíficos em 2011.
O conflito, que envolveu potências regionais e mundiais, assim como grupos jihadistas, deixou meio milhão de mortos e milhões de deslocados.
A ofensiva relâmpago da semana passada coincidiu com a entrada em vigor de um frágil cessar-fogo no vizinho Líbano entre Israel e o movimento islamista Hezbollah, um aliado de Assad e do Irã que foi enfraquecido após dois meses de guerra.
Foi graças ao apoio militar da Rússia, do Irã e do Hezbollah que o regime de Assad conseguiu mudar o rumo da guerra em 2015, ao recuperar uma grande parte do território e Aleppo em 2016.
O noroeste da Síria manteve nos últimos anos uma calma precária, possível graças ao cessar-fogo estabelecido após uma ofensiva do regime em março de 2020, mediado pela Rússia e pela Turquia.
Estados Unidos, França, Alemanha e Reino Unido pediram no domingo uma "desescalada" na Síria e uma "solução política" para acabar com a violência.
Washington, que também dispõe de soldados no norte da Síria, apoia as Forças Democráticas Sírias (FDS), dominadas pelos curdos e que lutaram contra o grupo jihadista Estado Islâmico (EI) no país.
O comandante das FDS, Mazlum Abdi, anunciou, nesta segunda-feira, que o movimento trabalha para retirar os civis curdos de vários setores da província de Aleppo e levá-los para "áreas seguras no norte do país", onde estabeleceram uma administração autônoma.
* AFP