Um homem que está processando a Disney pela morte da esposa recebeu uma resposta inusitada: pelos argumentos da empresa, o processo não poderia ocorrer em tribunal porque o homem assinou o serviço de streaming Disney+ por um mês, quatro anos antes.
Jeffrey Piccolo processou a companhia em nome da mulher, Kanokporn "Amy" Tangsuan, 42 anos, morta em outubro de 2023. Na época, o casal estava visitando o complexo de entretenimento Disney Springs, parte do Walt Disney World Resort, na Flórida. Eles jantavam no restaurante Raglan Road Irish Pub, onde Amy teria sofrido uma reação alérgica fatal.
A doutora da New York University teria morrido de choque anafilático após a refeição, apesar de avisar a equipe do estabelecimento sobre suas alergias "diversas vezes", segundo consta no processo.
Conforme o jornal New York Post, a Disney quer que o processo, no valor de US$ 50 mil dólares (aproximadamente R$ 273 mil), corra fora dos tribunais.
O argumento da empresa é de que Jeffrey assinou o teste gratuito do streaming Disney+ em 2019, no seu PlayStation. Conforme a companhia, os termos de uso do serviço incluiriam uma cláusula que concorda em não levar eventuais processos contra a Disney para a Justiça. A opção, que o viúvo teria acordado na época ao aceitar as regras, determinaria que qualquer questão entre a empresa e seus usuários deveria ser resolvida em acordo entre as partes.
Segundo os advogados de Piccolo, o argumento seria “absurdo” e “escandalosamente irracional”. Os ingressos que o casal teria comprado para visitar o parque Epcot, no aplicativo My Disney Experience, também corroboram a refutação da defesa. Para a companhia, ambos termos de uso — assinados antes das compras, para poder acessar os aplicativos — representariam o consentimento do viúvo de abrir mão de disputas judiciais.
Desde então, a equipe de Jeffrey se pronunciou contrária ao recurso: "A noção de que os termos de uso aceitos por um consumidor ao criar uma conta para teste grátis no Disney+ poderiam anular, para sempre, o direito daquele consumidor a um tribunal de júri em disputas contra qualquer filiado ou subsidiário da Disney é tão absurda e injusta que é capaz de chocar a consciência judicial, e esta corte não deveria cumpri-la".
Contexto da morte
Amy Tangsuan faleceu horas após jantar no Raglan Road Irish Pub com o marido, em 5 de outubro. A médica, que trabalhava no NYU Langone Hospital, teria avisado diversas vezes a equipe do restaurante sobre suas alergias, inclusive a cada novo pedido.
Conforme registrado no processo, Amy teria apresentado dificuldade para respirar antes de colapsar. Mesmo recebendo uma dose de adrenalina, ela não resistiu e morreu no hospital.
Os US$ 50 mil dólares pedidos pelo marido, Jeffrey Piccolo, são referentes a dano moral, luto, perda de renda e despesas funerárias.