O ator americano Joaquin Phoenix se recusa de modo veemente a fazer comparações fáceis entre o imperador bélico que interpreta em "Napoleão" e os conflitos que afetam o mundo atualmente.
"Se eu estivesse no meio de um conflito, a última coisa que eu desejaria seria ouvir um ator sentado no Bristol" parisiense (um hotel de luxo), disse Phoenix à AFP.
Em uma de suas primeiras entrevistas desde o fim da greve dos atores em Hollywood, Phoenix conversou com um pequeno grupo de jornalistas em Paris antes da estreia, na próxima quarta-feira (22), de "Napoleão", filme dirigido por Ridley Scott ("Blade Runner", "Gladiador").
"Há pessoas que estão sofrendo dores e angústias reais no momento. Não quero misturar um filme em que participo, que custou muito dinheiro, com algo que está acontecendo. Simplesmente parece errado", afirmou o ator, que venceu o Oscar por sua interpretação em "Coringa" (2019).
Phoenix, 49 anos, recordou que esperou mais de 20 anos para voltar a trabalhar com Scott, após o grande sucesso com "Gladiador", no qual interpretou outro imperador, Cômodo.
Em seguida, o ator faz piada e afirma que Scott não ligou para ele antes de encontrar "uma história sobre um tirano pequeno e petulante e afirmar: 'Eu tenho o cara certo!'".
- Amor e guerra -
O filme é uma mistura de batalhas em larga escala em toda a Europa e um retrato íntimo da relação complexa de Napoleão com sua primeira esposa, Josephine, interpretada por Vanessa Kirby.
O relacionamento conturbado foi preservado para a história com as cartas suplicantes do general para a esposa.
"Ele era muito desajeitado socialmente. Eu o considero um romântico com cérebro de matemático", disse o ator. "Eu queria ser sincero, mas as cartas dele... ele parece um adolescente apaixonado, quase plagiando poesia" nas cartas a Josephine.
"Haveria algo quase comovente, se ele não fosse responsável pela morte de milhões de pessoas", acrescentou.
"Imaginei que (Napoleão) era frio e calculista, como um grande estrategista militar. O que me surpreendeu foi o seu senso de humor e como era imaturo", revelou Phoenix.
Vanessa Kirby considera que a relação entre Napoleão e Josephine era fascinante, mas "exaustiva".
"Sempre me pareceu espantoso que o homem que construiu um império pudesse escrever estas cartas", afirmou.
"Eram inexoravelmente atraídos um pelo outro, mas nunca me pareceu algo sensato, tranquilo e saudável. Era obsessão e fascínio, dinâmicas de poder que mudavam", acrescentou Kirby.
O trabalho de pesquisa dos atores foi complicado. Napoleão é uma das figuras históricas que rendeu mais livros e as versões publicadas ao longo dos séculos são muito diferentes.
"É muito difícil obter uma resposta clara sobre muitas coisas", disse Phoenix, ao explicar que seu interesse era encontrar "inspiração mais do que informação", com detalhes sobre como Napoleão se alimentava e bebia.
"Algumas coisas são ridículas. Duas semanas antes do início das filmagens, alguém me disse: 'Você sabe que Napoleão era canhoto?'. E levou uma semana para desmentir isso", conta Phoenix com um sorriso.
O mesmo aconteceu com Josephine.
"Cada livro era completamente diferente. Tive a sensação que (Josephine) interpretava diferentes papéis para sobreviver", disse Kirby.
* AFP