Atrás de pneus e arames farpados, guardas armados junto a uma bandeira de Belarus ficam atentos a qualquer movimento do outro lado da terra de ninguém que os separa da Ucrânia, em uma fronteira de crescentes tensões.
Desde o lançamento da ofensiva russa contra a Ucrânia no ano passado, a atitude de Belarus - um aliado próximo de Moscou - é monitorada de perto por Kiev e seus parceiros ocidentais, que temem a entrada de Minsk no conflito.
Belarus também acolhe um número desconhecido de soldados russos em seu território, o que mantém a pressão sobre o Exército ucraniano. No ano passado, tanques russos entraram na Ucrânia, procedentes de Belarus, para atacar Kiev.
Embora esta ex-república soviética sirva como base de retaguarda para o Exército russo, até agora se absteve de enviar soldados para a Ucrânia.
Nesse contexto, a desconfiança reina, e ambos os lados se escrutinam, diariamente, a fim de detectar o menor sinal de hostilidade.
No posto fronteiriço de Dzivin, do lado bielorrusso, os guardas acusam os que estão à frente de fazerem "provocações".
"Há tentativas de arrastar Belarus para o conflito", disse o porta-voz dos guardas de fronteira, Anton Bishkovski.
Segundo ele, os bielorrussos estão fazendo "todo o possível para não se envolverem em um incidente fronteiriço", e a situação continua "sob controle, mas tensa".
Junto com outros veículos de comunicação, a AFP participou de uma visita de imprensa organizada pelas autoridades a um setor onde raramente entram jornalistas estrangeiros.
A passagem de fronteira mais próxima fica a cerca de 100 metros de distância. Ao longe, a bandeira azul e amarela da Ucrânia tremula ao vento.
Em sinal de desafio, os ucranianos também hastearam a bandeira branca, vermelha e branca da oposição bielorrussa, duramente reprimida nos últimos anos pelo governo do presidente Alexander Lukashenko.
- Tensões evidentes -
Antes da ofensiva russa, cerca de 500 viaturas passavam diariamente por este posto fronteiriço. Hoje, o local está deserto, já que este ponto de travessia se encontra fechado há um ano, assim como o restante da fronteira entre os dois países.
Ainda que esta região rural do sudoeste de Belarus esteja afastada dos combates no leste da Ucrânia, as tensões são evidentes. Na aldeia de Dzivin, as autoridades até instalaram um posto de controle. É necessário um passe oficial para ter acesso ao local.
Dois guardas de máscaras de esqui patrulham a estrada lamacenta ao longo da cerca de arame farpado. Um está equipado com uma arma apontada para o chão, e o outro segue acompanhado por um cachorro.
Questionado sobre o que representava o 24 de fevereiro de 2022, início da ofensiva, Anton Bishkovski respondeu: "assim como a comunidade internacional, nesse dia nos demos conta de que os líderes políticos deveriam se sentar à mesa e negociar".
Essa perspectiva parece muito distante hoje.
De um lado, o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, promete derrotar o Exército russo, considerando impossível negociar com Moscou, enquanto Vladimir Putin estiver no Kremlin.
Do outro, o líder russo se impôs a missão de "desnazificar" e "desmilitarizar" a Ucrânia, acusando-a de cometer um "genocídio" contra os russófonos.
Como sinal da importância de Belarus em sua estratégia militar para sua ofensiva na Ucrânia, Putin fez uma rara viagem a Minsk em dezembro. No último ano, foram poucas as aparições em público do presidente russo.
Na leitura de analistas, foi uma forma de lembrar o presidente Lukashenko de que continua a depender, em grande medida, do apoio político e econômico do Kremlin e que lhe deve lealdade.
* AFP