O governo da Etiópia anunciou nesta quinta-feira (20) que participará em 24 de outubro nas negociações de paz organizadas pela União Africana (UA) na África do Sul para tentar acabar com o conflito de quase dois anos na região do Tigré, norte do país.
Os apelos internacionais para frear a escalada de violência no Tigré aumentaram depois de uma tentativa frustrada da UA nas últimas semanas de levar as duas partes à mesa de negociações.
A Comissão da UA "nos informou que as negociações de paz foram marcadas para 24 de outubro na África do Sul. Voltamos a confirmar nosso compromisso de participar", afirmou no Twitter Redwan Hussein, conselheiro de Segurança Nacional do primeiro-ministro, Abiy Ahmed.
A Comissão da UA, que tem sede em Adis Abeba, não respondeu de maneira imediata aos pedidos de comentários da AFP.
Questionadas pela AFP sobre essas novas discussões, as autoridades rebeldes da região norte do Tigré, que enfrentam o governo federal em um conflito armado desde novembro de 2020, simplesmente lembraram seu compromisso anterior de participar das negociações de paz.
"Já anunciamos que participaríamos de um processo (de paz) sob os auspícios da UA", declarou um de seus porta-vozes, Getachew Reda, sem se referir à data de 24 de outubro.
O governo e os líderes rebeldes do Tigré concordaram em participar no diálogo com mediação da UA este mês, mas a reunião não foi realizada.
Na região, os combates ficaram mais intensos e o governo prometeu retirar dos rebeldes o controle dos aeroportos e de outras instalações federais como parte de uma estratégia de "medidas defensivas".
O governo anunciou esta semana a tomada de três localidades no Tigré, onde as forças etíopes, aliadas com as tropas da Eritreia, iniciaram uma ofensiva contra os rebeldes da região.
- Temor pelos civis -
O avanço das tropas pela região provocou temores de que os civis, os trabalhadores humanitários e os deslocados permaneçam bloqueados pelos confrontos.
Testemunhas citaram bombardeios contra assentamentos civis como Shire, uma localidade onde três pessoas morreram na semana passada, incluindo um funcionário da ONG International Rescue Committee.
O norte da Etiópia é cenário há quase dois anos de uma guerra que provocou uma catástrofe humanitária.
O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, afirmou esta semana que a situação no Tigré está "saindo de controle" e pediu a "retirada imediata" das tropas eritreias.
Os quase seis milhões de habitantes do Tigré estão praticamente isolados do mundo e enfrentam a escassez de combustíveis, alimentos e remédios, além da falta de serviços básicos.
O confronto provocou o deslocamento de quase dois milhões de pessoas no norte da Etiópia e um número ainda maior de habitantes precisa de ajuda humanitária, de acordo com a ONU.
O conflito começou em novembro de 2020, quando o primeiro-ministro enviou tropas ao Tigré depois de acusar a TPLF de atacar acampamentos do exército.
* AFP