O papa Francisco criticou a "brutalidade" das tropas russas contra o povo ucraniano "corajoso", ao mesmo tempo que disse que a guerra "pode ter sido provocada". Em entrevista concedida a revistas jesuítas europeias no mês passado e publicada nesta terça-feira (14) pela revista italiana La Civilta Cattolica, o pontífice se recusou a "reduzir" o conflito atual a "uma distinção entre bons e maus".
— O que vemos é a brutalidade e a ferocidade com que esta guerra está sendo travada pelas tropas, geralmente mercenárias, utilizadas pelos russos. Os russos preferem enviar chechenos, sírios, mercenários — lamentou Francisco, que fez diversos apelos de paz desde a invasão russa da Ucrânia, em 24 de fevereiro.
— Mas o perigo é que só vemos isso, que é monstruoso, sem ver todo o drama que está acontecendo por trás desta guerra, que pode ter sido, de alguma maneira, provocada ou não impedida — disse.
Em seguida, o Papa condenou a indústria das armas.
— Ao chegar neste ponto, alguns poderiam dizer: "Mas você é pró-Putin". Não, não sou. Seria simplista e errado dizer tal coisa — acrescentou o líder espiritual dos católicos, que considera necessário "raciocinar sobre as raízes e interesses" deste conflito, "que são muito complexos".
— Também é verdade que os russos pensaram que tudo acabaria em uma semana. Mas eles cometeram um erro de cálculo. Encontraram um povo corajoso, um povo que luta para sobreviver e que tem um histórico de luta — acrescentou o Papa argentino de 85 anos.
Em 3 de maio, em uma entrevista ao jornal italiano Corriere della Sera, Francisco falou que a "irritação" do Kremlin pode ter sido provocada pelos "latidos da Otan na porta da Rússia".