A ONU afirmou nesta sexta-feira (24) que a jornalista Shireen Abu Akleh, do canal Al-Jazeera, foi morta por um tiro das forças israelenses, embora Israel negue a validade desse relatório e garanta que é "impossível" determinar a origem do disparo
"Todas as informações que conseguimos - incluindo as do exército israelense e do procurador-geral palestino - corroboram que os tiros que mataram Abu Akleh e feriram seu colega Ali Sammoudi vieram das forças de segurança israelenses e não de tiroteios indiscriminados de palestinos armados", afirmou a porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Ravina Shamdasani.
"Não encontramos nenhuma informação que sugira que houve qualquer atividade de palestinos armados perto dos jornalistas", destacou Shamdasani, que considerou "profundamente inquietante que as autoridades israelenses não tenham aberto nenhuma investigação judicial".
Nas últimas semanas, as apurações jornalísticas também apontaram ao exército israelense.
Este respondeu imediatamente com um cópia de seus comunicados anteriores, nos quais rejeita a versão apresentada pela ONU. O ministro israelense da Defesa, Benny Gantz, afirmou que se trata de uma investigação "sem fundamento".
A jornalista da emissora do Catar "não foi assassinada intencionalmente por um soldado israelense e é impossível determinar se foi baleada por um homem armado palestino que disparava indiscriminadamente na zona em que estava ou inadvertidamente por um soldado israelense", apontou o Exército em um comunicado.
- Jornalistas claramente marcados -
Abu Akleh usava um colete à prova de balas com a palavra "imprensa" e um capacete, mas o tiro a atingiu pouco abaixo desta peça de proteção.
Ela estava nas imediações do campo de refugiados de Jenin, reduto das facções armadas palestinas, onde as forças israelenses estavam em uma operação.
"Nossas conclusões indicam que nenhuma advertência foi feita e que não aconteceram tiroteios indiscriminados naquele momento e local", afirmou Shamdasani, antes de recordar que os jornalistas usavam equipamentos de proteção claramente marcados.
"A alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, continua pedindo às autoridades israelenses que iniciem uma investigação criminal sobre a morte de Abu Akleh e sobre todas as outras mortes ou ferimentos graves cometidos pelas forças israelenses na Cisjordânia e no âmbito das operações de manutenção da ordem em Gaza".
"As normas internacionais de direitos humanos exigem uma investigação rápida, exaustiva, transparente, independente e imparcial de qualquer uso da força que provoque morte ou lesões graves. Os autores devem prestar contas", destacou Shamdasani.
"De acordo com a metodologia mundial de vigilância dos direitos humanos, nosso gabinete inspecionou material fotográfico, vídeo e áudio. Também visitou local, consultou especialistas, examinou as comunicações oficiais e entrevistou testemunhas", destacou a porta-voz.
Benny Gantz nega e afirma que o exército "foi alvo dos tiros sustentados durante os eventos que levaram à morte de Shireen e respondeu adequadamente".
"O que vai acontecer agora?" Quantos relatórios precisamos para responsabilizá-los?", questionou no Twitter Lina Abu Akleh, sobrinha da jornalista, sobre as autoridades israelenses.
O exército de Israel reiterou na sexta-feira seu pedido para que a Autoridade Palestina entregue a bala fatal.
Segundo ele, esta é a única forma de conseguir realmente determinar quem fez o disparo.
De acordo com o promotor palestino, se trata de uma bala de 5,56 mm disparada de um fuzil semiautomático Ruger Mini-14.
A Autoridade Palestina se nega a devolver a bala e pede aos israelenses que os entreguem a arma.
* AFP