O Irã acusou nesta segunda-feira (12) Israel de estar por trás do ataque à central de enriquecimento de urânio de Natanz e prometeu "vingança", em um momento de esforços diplomáticos para conseguir que o acordo internacional de 2015 sobre o programa nuclear de Teerã retorne ao bom caminho.
Mais de 24 horas depois do incidente, as circunstâncias, seu modus operandi e o alcance dos danos continuam indefinidos.
A União Europeia (UE) e a Rússia, que participam das negociações diplomáticas com a República Islâmica para retomar o acordo sobre seu programa nuclear, afirmaram que esperavam que o ocorrido em Natanz não prejudique as discussões.
O governo dos Estados Unidos disse hoje não teve nada a ver com o ocorrido.
"Os Estados Unidos não estiveram envolvidos de maneira alguma", disse a secretária de imprensa da Casa Branca, Jen Psaki. "Não temos nada a acrescentar às especulações sobre as causas ou os impactos" do incidente, afirmou.
O porta-voz da Agência de Energia Atômica do Irã (AEAI), Behrouz Kamalvandi, pareceu minimizar o incidente ao declarar nesta segunda-feira que "o centro de distribuição de eletricidade" da fábrica de Natanz, no centro do país, foi afetado por uma "pequena explosão" às 05h00 de domingo.
Segundo ele, os danos poderão ser reparados "rapidamente", uma observação que contrasta com as declarações do chefe da AEAI, Ali Akbar Salehi, que havia afirmado antes à agência de notícias Fars que foi necessário ativar o sistema elétrico de emergência.
Enquanto isso, o porta-voz da diplomacia iraniana, Said Khatibzadeh, disse hoje pela manhã que ainda é "muito cedo para determinar os danos materiais provocados pelo ataque", que ele classificou como um "ato terrorista" realizado por Israel, que teria danificado várias centrífugas usadas para enriquecer urânio.
Por sua vez, o jornal New York Times citou responsáveis dos serviços de inteligência israelenses e americanos, afirmando que "Israel teve um papel" no ocorrido em Natanz, onde, segundo essas fontes, "uma forte explosão teria destruído totalmente (...) o sistema de energia elétrica interno, que alimenta as centrífugas".
Foi nesta mesma fábrica do complexo nuclear de Natanz, um dos principais do programa atômico da República Islâmica, onde Teerã começou no sábado a testar novos conjuntos interconectados de centrífugas.
Essas máquinas oferecem ao Irã a possibilidade de enriquecer urânio mais rapidamente, em quantidades e graus de refinamento proibidos pelo acordo de 2015.
- "Centrífugas mais avançadas" -
Khatibzadeh acusou indiretamente Israel de tentar provocar o fracasso das negociações em curso em Viena para tentar fazer com que o governo dos Estados Unidos retornem ao acordo internacional de 2015, além de obter a suspensão das sanções que Washington voltou a instaurar contra Teerã.
A União Europeia (UE) afirmou que não aceita tentativas de obstruir as discussões com o Irã por sua política nuclear.
"Rejeitamos qualquer tentativa de minar ou provocar o descarrilamento das atividades diplomáticas em marcha", disse o porta-voz da diplomacia do bloco, Peter Stano, antes de afirmar que as circunstâncias do ocorrido em Natanz "devem ser esclarecidas de modo profundo".
Um pouco antes, Heiko Maas, chefe da diplomacia da Alemanha, um dos países signatários do acordo de 2015, afirmou nesta segunda-feira que os acontecimentos recentes "não são positivos" para as negociações em andamento.
O ministério das Relações Exteriores russo afirmou nesta segunda-feira que espera que "o ocorrido em Natanz não se torne um 'presente' para os críticos do acordo e que não prejudique as negociações".
De acordo com a agência estatal de notícias Irna, vários deputados afirmaram que o ministro iraniano das Relações Exteriores iraniano, Mohammad Javad Zarif, "ressaltou a necessidade de não cair na armadilha preparada pelos sionistas."
"Mas não permitiremos (que Israel prejudique as negociações de Viena) e vamos nos vingar dos sionistas por estas ações", teria declarado o ministro, segundo as mesmas fontes, durante uma reunião no Parlamento sobre o ataque de Natanz.
Durante a presidência de Donald Trump, o governo dos Estados Unidos denunciou unilateralmente em 2018 o acordo nuclear com o Irã, que havia sido assinado três anos antes, e restabeleceu as sanções americanas ao país.
Como represália, desde 2019 o Irã se afastou da maioria dos compromissos cruciais para limitar as atividades nucleares que assumiu no acordo assinado em Viena.
Joe Biden, que sucedeu Trump em janeiro, destacou a intenção de retornar ao acordo de 2015.
Teerã sempre negou querer uma bomba atômica. Nesta segunda-feira, o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu reiterou que Israel impedirá que o Irã tenha armas nucleares, mas evitou mencionar o incidente ocorrido em Natanz.
* AFP