O líder opositor Juan Guaidó fez neste sábado (16) um giro pela Venezuela para organizar uma mobilização nacional rumo ao Palácio de Miraflores, em Caracas, no passo seguinte de sua estratégia para tirar o presidente Nicolás Maduro do poder.
Enquanto isso, milhares de partidários do chefe de Estado socialista se mobilizavam no centro de Caracas, e a Força Armada iniciava dois dias de exercícios para blindar a infraestrutura hidrelétrica depois do apagão de 7 de março que paralisou o país durante uma semana.
"Hoje iniciamos uma nova etapa de organização (...), vamos visitar todos os estados possíveis, vamos nos organizar muito bem na operação liberdade pelo cessar definitivo da usurpação", disse Guaidó, reconhecido como presidente encarregado por mais de 50 países, liderados pelos Estados Unidos.
Diante de milhares de seguidores na cidade de Valencia (norte), o líder parlamentar explicou que para isso serão formados "comandos pela liberdade", células que mobilizarão a base opositora.
"Muito em breve, quando tivermos percorrido e organizado cada canto (...) vamos a Miraflores reivindicar o que é do povo", disse Guaidó, sem fixar ainda uma data para a mobilização.
"Estou disposta a ir a Miraflores já, aonde me pedir meu futuro presidente Juan Guaidó. Toda a minha família está fora do país, se não fosse por eles morreríamos de fome", disse à AFP Milagros Lima, advogada de 50 anos.
Guaidó insistiu em que seus partidários devem estar "muito organizados" para evitar um "confronto" e pediu-lhes para convencer outros militares e funcionários que conheçam a abandonar Maduro.
"Todas as opções estão na mesa com responsabilidade, com força, mas depende de nós, qualquer opção nos deve encontrar mobilizados", reiterou o opositor, que não descarta pedir uma intervenção militar estrangeira.
- "Vitória" -
Os Estados Unidos, seu aliado mais fervoroso, informaram não descartar uma ação armada para tirar Maduro, a quem se propôs estrangular economicamente com sanções como um embargo petroleiro que se tornará efetivo em 28 de abril.
Mas o Grupo de Lima (Canadá e 13 países latino-americanos), que também reconhece Guaidó, exclui a opção militar.
Em todo caso, o opositor reconhece que antes da marcha a Miraflores deve ter as Forças Armadas "totalmente alinhadas", seu maior desafio pois até agora a cúpula militar se mantém leal a Maduro, cuja aprovação é de apenas 14%, segundo o instituto de pesquisas Datanálisis.
Como é costume quando a oposição se mobiliza, as bases chavistas marcharam neste sábado no centro de Caracas, desta vez para cantar "vitória", após o restabelecimento da eletricidade depois do pior apagão da história da Venezuela.
"Cada minuto de paz que a Venezuela tem é uma vitória para a revolução e uma derrota para o império norte-americano, que arde no desejo de que nos matemos aqui", declarou à AFP Hermes Flores, educador de 55 anos, na avenida Urdaneta.
Embora acredite que Guaidó é uma "chama que vai se apagando", Flores pede para "seguir alerta nas ruas".
- Exercícios militares -
O corte elétrico, que Maduro atribui a "ciberataques" dos Estados Unidos, paralisou o país na quinta-feira passada, quando foi retomada a jornada de trabalho. Algumas falhas persistem na região oeste.
Diante disso, a Força Armada, principal sustentação de Maduro, iniciou os "Exercícios de Ação Integral 'Ana Karina Rote' (grito de vitória indígena) para proteger os serviços estratégicos da nação", anunciou o presidente no Twitter.
"Não permitiremos que os inimigos da pátria voltem a roubar a tranquilidade do heroico povo venezuelano", indicou Maduro ao lado de uma foto que mostra centenas de soldados e veículos blindados em uma esplanada rodeada de montanhas, sem informar sua localização.
Guaidó, de 35 anos, se autoproclamou presidente encarregado em 23 de janeiro depois que o Congresso declarou o líder socialista um "usurpador" por considerar que sua reeleição foi "fraudulenta".
Maduro o chama de "marionete" de Donald Trump, a quem acusa de planejar a invasão da Venezuela para se apoderar de suas riquezas petrolíferas.
* AFP