Tlahuelilpan amanheceu neste sábado mergulhada em angústia, luta e cheiro de gasolina, após a explosão de um oleoduto, que deixou 67 mortos, no momento em que o governo mexicano luta contra o roubo de combustível, que gera desabastecimento.
A menos de 500 metros deste povoado, de cerca de 20 mil habitantes, em um terreno agrícola, localiza-se o marco zero. Ele está cercado de militares, e mais cedo era possível ver o corpo carbonizado de várias vítimas.
Ante o olhar emocionado de parentes e peritos, os corpos permaneciam no local, na postura em que faleceram.
No meio da tarde, os corpos já tinham sido trasladados a necrotérios e funerárias próximas, mas alguns moradores temiam que alguns permanecessem na zona, enterrados devido ao caos da noite anterior.
Na cidade vizinha de Tula, várias pessoas esperavam para identificar seus familiares. O processo pode demorar porque são exigidos testes de DNA.
O duto foi perfurado na tarde de ontem por traficantes de combustível, crime que se propagou do narcotráfico, dando um prejuízo anual de mais de 3 bilhões de dólares à estatal Petróleos Mexicanos (Pemex).
"Tenho dois irmãos. Um está no hospital militar e o outro não encontramos em nenhum hospital, estamos esperando para ver se está aqui", conta Patricia Vázquez, 46, enquanto se protege do frio com uma manta.
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Ao saber do vazamento de gasolina, cerca de 700 pessoas correram com vasilhames para levar um pouco de combustível, cujo preço não para de subir e que escasseou nos últimos dias em amplas zonas do México.
Militares compareceram ao local, mas se retiraram sem conseguir dispersar a multidão. Eles tinham ordem de não intervir, admitiu o governo.
Para Arturo Rufino López, o Exército foi passivo. "Era muita gente, a explosão foi muito rápida, havia o Exército e não te dizem nada, não te dizem que você não pode se meter", comentou.
Mas Patricia Vázquez, cuja família se dedica ao transporte, reconhece que há um compartilhamento de responsabilidade na tragédia, porque o roubo de gasolina "já havia saído do controle".
A gasolina escasseou em uma dezena dos 32 estados mexicanos depois que o presidente Andrés Manuel López Obrador, que asumiu o poder em 1º de dezembro, lançou uma estratégia para combater o "huachicol", que consiste, basicamente, em fechar dutos perfurados e distribuir o combustível em caminhões-tanque.
As operações no duto que explodiu haviam sido suspensas em dezembro, e ele começava a ser enchido quando foi perfurado, nesta sexta-feira.
Outro vizinho, que não quis se identificar, argumentou que o povoado, que conta com lojas e alguns hotéis, tem poucas fontes de receita. "Como está elevado o preço da gasolina, muitos veem isto como uma oportunidade, ganham muito pouco como camponeses", explicou.
O morador Julio Flores, 62, incapaz de controlar sua preocupação, procurava o filho, que, segundo ele, envolveu-se na tragédia de forma circunstancial.
"Ele gosta se ser curioso, ajudar pessoas, e cometeu o erro de vir para cá, porque necessidade de roubar ele não tinha", afirmou, assinalando que o filho mora no Canadá e estava de visita.
Esta foi a maior tragédia causada pelo roubo de combustível, uma vez que, apesar de já terem sido registrados vários incêndios em dutos perfurados, a maioria não deixou vítimas.
O presidente visitou Tlahuelilpan na noite de ontem, ofereceu condolências e anunciou que irá manter a luta contra o roubo de combustíveis.
* AFP