Centenas de centro-americanos da caravana de migrantes que chegou a Tijuana, no México, protestaram nesta quinta-feira diante da fronteira com os Estados Unidos, enquanto tropas realizavam uma demonstração de força no lado americano.
Os migrantes - homens, mulheres e até crianças - partiram ao meio-dia do albergue instalado pela prefeitura de Tijuana em direção à ponte El Chaparral, localizada a cerca de um quilômetro do local, constatou a AFP.
No lado americano, centenas de policiais e soldados realizaram um "exercício em grande escala de rapidez operacional" no ponto de passagem de San Ysidro, informou o Bureau de Alfândega e Proteção da Fronteira dos EUA.
Uma linha de vanguarda, formada por dezenas de policiais com capacetes e armas longas, foi colocada de frente para o território mexicano, enquanto um batalhão de choque simulava manobras de contenção.
Reforçada por barreiras metálicas, a linha de fronteira era sobrevoada por vários helicópteros das forças americanas.
Na tentativa de conter o protesto dos centro-americanos, um agente do grupo Beta - equipe de oficiais e voluntários do governo mexicano que auxilia há anos os migrantes - conversou com a liderança da marcha que seguiu para a fronteira.
Com a ajuda de um alto-falante, o agente do grupo Beta explicou aos migrantes que para cruzar a fronteira e pediu asilo nos Estados Unidos era preciso entrar em uma lista de espera, o que foi rejeitado pelo grupo.
"Que nos deixem passar, estamos desesperados, deixamos nossas famílias em Honduras. Precisamos de trabalho", disse um migrante identificado como Wilson.
O agente, na tentativa de deter o avanço do grupo de migrantes, citou os benefícios oferecidos pelo México para que regularizem sua situação.
"Há um escritório onde se oferece trabalho, há muito trabalho na cidade (Tijuana)...". O que propomos é que ao menos ganhem algum dinheiro antes de seguir para os Estados Unidos. Que esperem a sua vez".
Outro homem informou que no albergue havia ônibus para levar os migrantes a um local onde era oferecido trabalho.
"Não queremos!" - gritaram os migrantes antes de reiniciar sua marcha em direção à fronteira.
Irritados após uma noite chuvosa que encharcou seus pertences e colchões instalados a céu aberto, os milhares de migrantes no albergue em Tijuana acordaram com um único pensamento: partir do local em direção à fronteira americana.
"Vamos direto para a fronteira! Assim poderemos pressionar Trump. Neste albergue estamos apenas perdendo tempo e nossas forças" - gritou em um alto-falante Carlos Rodríguez, um membro da caravana.
"Hoje é um dia especial, de Ação de Graças nos Estados Unidos (Thanksgiving). Não vão nos linchar", disse Rodríguez entre aplausos e gritos da multidão.
Ao cair da noite, dezenas de migrantes criaram um novo acampamento, em plena rua, junto a El Chaparral.
"Vou hoje mesmo para o outro lado, por uma ponte ou por outro caminho. Não importa como, mas já não podemos ficar aqui" no albergue, disse à AFP Elvin Perdomo, um hondurenho que viaja apenas com seu filho pequeno.
O presidente americano, Donald Trump, acusa os migrantes de tentar invadir os Estados Unidos e enviou milhares de militares à fronteira com o México.
Trump renovou nesta quinta-feira sua ameaça de fechar toda a fronteira com o México, incluindo para os intercâmbios comerciais, se a situação migratória sair do controle.
"Se chegar a um nível em que percamos o controle ou pessoas possam ficar feridas, fecharemos a entrada ao país por um período de tempo", afirmou aos jornalistas.
"Eu me refiro à toda fronteira. México não poderá vender seus automóveis aos Estados Unidos", afirmou.
Trump já havia ameaçado em meados de outubro, em plena campanha para as eleições de meio de mandato, impedir a caravana de migrantes centro-americanos a entrar em seu país se o México não for "capaz" de deter o "assalto".
* AFP