Muitos apostavam que cairia rapidamente, abalado por uma grande crise. Mas Nicolás Maduro aferra-se ao poder na Venezuela e, depois de denunciar um atentado contra sua vida, afirma que está mais decidido do que nunca a prosseguir com a Revolução Bolivariana.
"Estou bem, estou vivo, e depois deste atentado estou mais decidido do que nunca a seguir o caminho da revolução", afirmou o ex-motorista de ônibus, 55 anos, corpulento e com um marcante bigode, depois do alegado ataque que, segundo o governo, foi executado com drones carregados de explosivos no sábado.
Reeleito em maio em eleições polêmicas, não reconhecidas pela oposição, Estados Unidos, vários governos da América Latina e da União Europeia, o presidente socialista encerrava no sábado um discurso no centro de Caracas quando foram ouvidas explosões.
Maduro escapou ileso, mas sete militares ficaram feridos, segundo o governo.
"Justiça! Máximo castigo! E não vai haver perdão", afirmou o presidente poucas horas depois, quando acusou a oposição, o presidente em fim de mandato da Colômbia, Juan Manuel Santos, e exilados nos Estados Unidos.
Apesar do colapso econômico (FMI projeta inflação de 1.000.000% e queda de 18% do PIB em 2018), Maduro governará por mais seis anos a partir de janeiro de 2019, depois de vencer eleições em que os principais partidos de oposição defenderam a abstenção, por considerar o processo uma "farsa".
Em sua presidência, a Venezuela vivenciou grandes protestos em 2014 e 2017 que deixaram quase 200 mortos. Ele resiste e tenta mostrar-se, cada vez mais, como um homem de "linha dura".
"Sua autoridade nasce herdada de Hugo Chávez (presidente de 1999 até sua morte, em março de 2013). Mas agora temos um Maduro diferente, que sabe que é forte e é mais agressivo", disse à AFP o diretor do instituto de pesquisas Delphos, Félix Seijas.
"Me irrita que digam que sou um ditador", já afirmou Maduro, que recebeu formação comunista em Cuba durante a década de 1980. Ele insiste que enfrenta uma "guerra econômica" promovida por Washington e seus adversários para derrubá-lo. Pesquisas registram índice de impopularidade de 75%.
- Metamorfose -
Ungido por Chávez para liderar a "revolução bolivariana", Maduro venceu a eleição presidencial por muito pouco, em abril de 2013, contra o opositor Henrique Capriles.
Dois anos depois, sofreu um duro golpe, quando a oposição arrasou nas legislativas. Mas reverteu a derrota e, desde agosto de 2017, conta com uma Assembleia Constituinte de poder absoluto.
Em 2018 foi reeleito em uma disputa com o dissidente chavista Henri Falcón.
Chávez, a quem conheceu em 1993, o considerava um verdadeiro "revolucionário". Mas adversários e ex-companheiros o acusam de enriquecer empresários amigos e a cúpula militar.
"Foi subestimado pelos opositores e por muitos chavistas. Mas soube aproveitar os erros de uns e de outros, conseguindo anular seus adversários dentro e fora do chavismo", comentou Andrés Cañizalez, pesquisador em comunicação política.
Um deles - observou - é Rafael Ramírez, ex-presidente da petroleira PDVSA, homem de confiança de Chávez e potencial aspirante presidencial, que foi retirado da embaixada na ONU, acusado de corrupção.
"Maduro passou por uma metamorfose" e "poderíamos estar passando do chavismo ao 'madurismo'. Sem dúvida, está apontando para consolidar um espaço de poder autônomo", acrescentou Cañizalez.
Seu discurso moderado e capacidade negociadora como sindicalista, chanceler e vice-presidente de Chávez, mudou para os acalorados discursos contra seus adversários, a quem critica e insulta sem pudores.
Seijas atribui astúcia a Maduro e considera que tem sido "um grande equilibrista que conseguiu manter uma distribuição das cotas de poder" no chavismo.
- Reformista? -
Sem o carisma de Chávez, Maduro tentou imitá-lo em longas aparições diárias na TV, com a fala popularesca e a retórica anti-imperialista. Mas, aos poucos, passou a construir a própria imagem e agora promete reformas.
Quando a crise se torna mais intensa, o presidente cogita mudanças bruscas na economia. Anunciou uma flexibilização do rígido controle cambial, em vigor desde 2003, assim como ajustes no preço da la gasolina, a mais barata do mundo.
Ele se declara um "operário", dirige sua caminhonete, ri de seu inglês ruim e de quem o chama de "Ma'burro" por suas mancadas frequentes, dança salsa, bolero e reggaeton, e é muito ativo nas redes sociais.
Declara-se católico, é fã de beisebol e, na adolescência, foi guitarrista de uma banda de rock. Seus opositores asseguram que nasceu na Colômbia, mas ele insiste que é de Caracas
É casado com a ex-procuradora Cilia Flores, a quem chama de "primeira combatente", e é pai de "Nicolasito", membro da Assembleia Constituinte de 27 anos, fruto de um casamento anterior
Tentando renovar sua imagem e a promessa de reformas, Maduro tentou sair da sombra de Chávez. Em 2013, o jingle da campanha dizia: "Chávez para sempre, Maduro presidente. Chávez, eu te juro, meu voto é de Maduro".
Em 2018, o refrão de um reggaeton chiclete afirmava: "Todos com Maduro, lealdade e futuro. O povo manda com Maduro".
* AFP