O direitista Iván Duque, de 42 anos, assumiu nesta terça-feira (7) a presidência da Colômbia anunciando "corretivos" no acordo de paz com a ex-guerrilha das Farc e um endurecimento nas condições de diálogo com o ELN.
Eleito para substituir o liberal Juan Manuel Santos, o novo presidente declarou que "por respeito à Colômbia e pelo mandato cidadão que recebemos, aplicaremos corretivos para assegurar às vítimas verdade, justiça proporcional, reparação e não repetição".
Duque, que cumprirá um mandato de quatro anos, é afilhado político do ex-presidente Álvaro Uribe (2002-10), contrário ao pacto com os rebeldes, assinado no final de 2016.
Em seu discurso de posse, nos arredores da sede do Congresso, na Praça Bolívar, centro de Bogotá, Duque prometeu corrigir "falhas estruturais" na implementação dos compromissos assumidos por Santos, Nobel da Paz por ter alcançado o acordo com a hoje desmobilizada guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, transformada no partido político Força Alternativa Revolucionária do Comum.
Embora não tenha dado informações concretas sobre o tipo de modificações que vai introduzir no acordo que evitou 3.000 mortes ao ano, Duque criticou especificamente que os líderes insurgentes acusados de crimes atrozes continuem ocupando um dos dez assentos no Congresso reservados pelo acordo.
O pacto, que permitiu o desarmamento de 7.000 guerrilheiros no ano passado e aliviou um conflito de mais de meio século que deixou milhões de vítimas, também prevê reforma agrária e um sistema judiciário especial.
Neste sentido, os guerrilheiros que confessarem seus crimes, repararem os afetados e se comprometerem a nunca mais exercer a violência poderão receber penas alternativas à prisão.
"As vítimas devem contar que haverá reparação moral, material e econômica de parte de seus algozes e que não serão agredidas pela impunidade", afirmou Duque.
Apesar dos anunciados "corretivos", o novo presidente garantiu que vai respeitar o acordado com a base guerrilheira para que os ex-insurgentes tenham uma inserção social e econômica efetiva.
"Acredito na desmobilização, no desarmamento e na reinserção da base guerrilheira. Muitos deles foram recrutados à força ou separados de seu entorno pela intimidação das armas. Estou convencido e comprometido em buscar para a base destas organizações oportunidades produtivas e zelar por sua proteção", enfatizou.
Em seu discurso, Duque também destacou a luta contra a corrupção, prometendo castigos mais severos, e a "reativação econômica" mediante a redução de impostos sobre empresas que gerem empregos.
- Negociações mais duras com ELN -
Também em seu discurso de posse, Duque prometeu endurecer as condições dos diálogos de paz com a última guerrilha do país, o ELN, iniciados oficialmente em fevereiro de 2017, em Cuba.
"Quero deixar absolutamente claro que um processo crível deve se basear no cessar total de ações criminosas, com estrita supervisão internacional e tempos definidos", disse o presidente.
Duque afirmou que nos primeiros 30 dias de seu governo avaliará as conversações com o grupo guevarista.
O presidente assegurou que se reunirá com as Nações Unidas e a Igreja Católica, que acompanharam as negociações, para que "compartilhem conosco do balanço acerca do mesmo".
"Queremos avançar, mas para avançar é preciso deixar claro que o povo colombiano não vai tolerar que a violência seja legitimada como forma de pressão ao Estado", enfatizou.
O governo de Juan Manuel Santos (2010-18) deixou em curso os diálogos com o Exército de Libertação Nacional, que tomou armas em 1964, inspirado na Revolução cubana e na Teologia da Libertação.
Com 1.500 combatentes, os rebeldes declararam a intenção de continuar o processo que Santos não concretizou. No entanto, analistas coincidem em que dificilmente os insurgentes vão aceitar novas condições para continuar na mesa de negociações.
- Mensagem a Maduro -
Duque aproveitou o discurso para enviar uma mensagem ao presidente venezuelano, Nicolás Maduro, afirmando que promoverá "a defesa dos valores democráticos" e rejeitará "qualquer forma de ditadura no continente americano".
"Nossa atitude não é belicista, nossa atitude é democrática e estaremos em todos os cenários internacionais defendendo a Carta Democrática Interamericana".
Sob a administração de Santos, Bogotá praticamente congelou suas relações com Caracas e passou a liderar a campanha internacional que condena a "ditadura de Maduro" e pede uma mudança pacífica do regime.
O líder venezuelano acusou Santos de envolvimento em um suposto plano para assassiná-lo no sábado passado, com a utilização de drones com explosivos.
* AFP