O primeiro-ministro da Jordânia Hani Mulki apresentou, nesta segunda-feira (4), sua renúncia ao rei Abdullah depois de cinco dias de protestos contra as medidas de austeridade do governo.
As manifestações acontecem na capital Amã e em outras cidades do país desde quarta-feira (30). Elas são contra o aumento de preços e contra um projeto de lei para subir os impostos promovido por Amã sob pressão do Fundo Monetário Internacional (FMI) para a realização de reformas estruturais.
De acordo com uma fonte do governo que pediu para não ser identificada, Mulqi, no cargo desde maio de 2016, "apresentou sua renúncia esta tarde ao rei, que o recebeu no palácio (...) e que a aceitou". Ainda segundo a fonte, o rei Abdullah II pediu ao ministro da educação Omar al-Razzaz, para que forme um novo governo.
O FMI aprovou em 2016 uma linha de crédito de 723 milhões de dólares em três anos para o país. Em troca, a Jordânia se comprometeu em colocar em andamento reformas estruturais e reduzir progressivamente sua dívida pública até 77% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2021, frente aos 94% de 2015.
O projeto de lei fiscal, recomendado pelo FMI, prevê um aumento de ao menos 5% dos impostos que afetará pela primeira vez as pessoas com uma renda anual de 8.000 dinares (9.700 euros). O imposto às empresas aumentará, por sua vez, de 20 a 40%.
Na noite do sábado (2), cerca de 3.000 pessoas se manifestaram perto do gabinete do primeiro-ministro, no centro da capital. Centenas de manifestantes também saíram às ruas das cidades de Zarqa, Balqa (leste), Maan, Karak (sul), Mafraq, Irbid e Jerash (norte).
Trata-se do maior movimento de protesto desde o final de 2011 neste país de 10 milhões de habitantes. Nas últimas 48 horas, o primeiro-ministro fracassou em negociar um acordo de reconciliação com os sindicatos.
Para o presidente da principal federação sindical, Ali al Abbus, o Estado deve "conservar sua independência e não ceder às exigências do FMI".
Situação delicada
Os sindicatos pediram um novo dia de greve nacional na quarta-feira (30), indicando que queriam pedir ao rei que interviesse "nessa delicada situação".
Numa primeira tentativa de acalmar os protestos, o rei pediu "um diálogo nacional global e razoável sobre o projeto de lei tributário".
Desde janeiro, os produtos básicos registraram vários aumentos de preços, devido ao aumento dos impostos no país. O preço do combustível aumentou cinco vezes este ano, e as contas de luz subiram 55% desde fevereiro. Os novos aumentos previstos para a última quinta-feira (31), foram congelados na sexta-feira devido aos protestos.
Segundo dados oficiais, 18,5% da população jordaniana está desempregada e 20% está no limite da linha da pobreza.
De acordo com Adl Mahmud analista de Ciência Política, os protestos surpreenderam o governo.
— O movimento deve continuar até que suas exigências sejam ouvidas.