O opositor malaio Anwar Ibrahim foi libertado nesta quarta-feira, após ser indultado na semana passada pelo rei dos crimes que o mantinham na prisão há três anos, o que abre caminho para seu retorno à política.
A situação habilita Anwar Ibrahim a suceder, a médio prazo, o novo primeiro-ministro Mahathir Mohamad, de 92 anos, vencedor das eleições legislativas de 9 de maio.
Sorridente e vestido com um terno preto, Anwar abandonou o hospital de Kuala Lumpur onde foi submetido a uma cirurgia no ombro.
Anwar, 70 anos, saudou a multidão e entrou em um automóvel sem dar declarações aos jornalistas.
Anwar permaneceu preso por anos, condenado por sodomia, que é considerado um crime neste país do sudeste asiático de maioria muçulmana.
Fontes do partido de Anwar informaram que o político tem uma audiência com o rei Muhammad V e que deverá dar declarações durante a tarde.
A libertação significa uma guinada espetacular do cenário político do país multiétnico de 32 milhões de habitantes, depois da histórica derrota nas legislativas da semana passada da coalizão que estava no poder desde a independência da ex-colônia britânica em 1957, liderada por Najib Razak, primeiro-ministro do país no período de detenção de Anwar.
O anúncio do indulto foi realizado na sexta-feira passada, um dia após Mahathir Mohamad, de 92 anos, tomar posse como primeiro-ministro, após uma inesperada vitória nas eleições legislativas realizadas na quarta-feira.
Após um grande escândalo de desvio de recursos que afetou Najib Razak, Mahathir se uniu à oposição e passou a liderar uma coalizão integrada por vários políticos que foram contrários a seu governo autoritário, quando foi primeiro-ministro (1981-2003).
Mahathir havia se comprometido, em caso de uma vitória nas legislativas que permitisse sua chegada ao posto de primeiro-ministro, a ceder o cargo a Anwar, seu ex-inimigo, assim que este último deixasse a prisão.
Os dois políticos se reconciliaram antes das eleições com o objetivo de retirar o poder do ex-premier Razak, envolvido em um grande escândalo financeiro que abala a Malásia desde 2015.
O escândalo sobre um fundo de 10 bilhões de euros explodiu em 2015 e é investigado em vários países, especialmente em Cingapura, Suíça e Estados Unidos, o que contribuiu muito para a derrota de Najib nas legislativas.
Depois de assumir o posto de primeiro-ministro pela segunda vez, Mahathir declarou que deve permanecer no cargo por um ou dois anos.
Mas Anwar não poderá se somar ao governo de imediato. Primeiro deverá ser eleito parlamentar, já que perdeu sua cadeira no Parlamento em 2015.
Anwar foi o braço direito de Mahathir quando este foi primeiro-ministro pela primeira vez (1981-2003), mas em 1998 foi destituído por divergências políticas.
Condenado em 1999 a seis anos de prisão por corrupção e sodomia, Anwar rebateu energicamente as acusações. O caso provocou os maiores protestos contra o governo na história do país. Posteriormente, Anwar foi liberado da acusação de sodomia.
Após sua libertação, se tornou um carismático dirigente da oposição, que obteve resultados sem precedentes nas eleições, prometendo acabar com a corrupção e as violações das liberdades no país. Mas em 2015 Anwar foi condenado novamente, desta vez durante o mandato de Najib, a cinco anos de prisão por sodomia, em um julgamento tão polêmico quanto o anterior.
* AFP