A lenda do futebol George Weah prestou juramento nesta segunda-feira (22) como presidente da Libéria diante de milhares de partidários, na primeira transferência de poderes entre dois presidentes eleitos neste país desde 1944.
Weah, de 51 anos, prestou juramento ao meio-dia diante do presidente da Suprema Corte, Francis Korkpor, no maior estádio da Monróvia, lotado, constataram jornalistas da AFP.
A influente senadora Jewel Howard-Taylor, eleita vice-presidente de Weah, ex-esposa do chefe de guerra e presidente Charles Taylor (1997-2003), também prestou juramento.
Weah prometeu emprego e educação no país africano, 15 anos após atrozes guerras civis (1997-2003), que deixaram 250 mil mortos.
"Passei muitos anos da minha vida nos estádios, mas o que sinto hoje é incomparável", disse ele depois de prestar juramento no estádio Samuel Kanyon Doe, nome do ex-presidente do país (1980-1990), o único que não pertencia à elite "americano-liberiana", descendente de escravos libertos nos Estados Unidos e que dominou a vida política nacional por 170 anos.
"Unidos, temos a certeza de alcançar o sucesso como uma nação. Divididos, temos a certeza do fracasso", advertiu, referindo-se à guerra civil.
O ex-jogador de futebol sucede a Ellen Johnson Sirleaf, a primeira mulher eleita chefe de Estado na África em 2005, que deixa o poder após dois mandatos consecutivos de seis anos cada.
Vários chefes de Estado de países vizinhos participaram do evento, que também contou com a presença de amigos e ex-jogadores de futebol de Weah, ex-estrela do Mônaco, Paris-Saint-Germain e AC Milan.
Weah conquistou o Bola de Ouro em 1995, sendo o único africano a vencer este prêmio que distingue todo o ano o melhor jogador do planeta.
Depois de uma derrota durante sua primeira candidatura à Presidência em 2005 contra Sirleaf, ele conseguiu transferir sua popularidade para o cenário político e se tornou senador em 2014.
"Esta é a primeira vez que assisto a uma transferência pacífica de poder na Libéria", disse Samuel Harmon, um vendedor de rua de 30 anos.
"Toda a esperança deste povo depende dele (Weah). Todos pensam que, se ele falhar, a maioria das pessoas ficará desapontada com os políticos", completou Harmon.
- Sob pressão -
Nos seus 12 anos à frente do país, Sirleaf conseguiu manter a paz após as guerras civis que deixaram cerca de 250 mil mortos entre 1989 e 2003.
Em relação às reformas econômicas e sociais, porém, seu balanço é menos brilhante, e a pobreza extrema se espalhou no país, um dos piores Estados do mundo em termos de saúde, educação e desenvolvimento.
Durante uma missa realizada no domingo na Monróvia, Weah e Sirleaf mostraram sua unidade após uma campanha eleitoral difícil.
Derrotado por Weah no segundo turno em 26 de dezembro, o vice-presidente em final de mandato, Joseph Boakai, denunciou em um primeiro momento fraudes nas eleições.
Seu recurso judicial adiou a realização do segundo turno e, portanto, reduziu o período de transição. O novo presidente teve apenas um mês para formar sua equipe de governo.
A posse "implica continuidade e também uma resposta aos desafios da Libéria", disse o ex-presidente Sirleaf à AFP no domingo.
Weah terá de impulsionar a transformação de uma economia deprimida e que depende, em grande medida, da borracha e do minério de ferro, além de tentar atender às expectativas dos jovens que o levaram ao poder.
"Eles querem me ver como um ex-jogador de futebol, mas sou um ser humano. Tento ser excelente e posso ter sucesso", declarou no sábado, reafirmando que sua prioridade é manter a paz.
Alguns observadores duvidam, no entanto, de sua capacidade de combater a corrupção endêmica no país.
"Ele está sob a pressão de vários círculos eleitorais, e é improvável que nomeie um pequeno governo de especialistas, como anunciou após sua vitória", aponta o analista político Malte Liewerscheidt.
Os nomes que circulam "indicam claramente que vamos ver o pagamento de dívidas políticas, o que sugere a continuação de certas práticas, em vez de uma nova era política na Libéria", acrescentou.
* AFP