Apelidado de "o crocodilo" por seu caráter implacável, o ex-número dois do Zimbábue Emmerson Mnangagwa tomará posse como presidente na sexta-feira (24), três dias depois da renúncia de Robert Mugabe, que dirigiu o país com mão de ferro por 37 anos.
Vice-presidente desde 2014, este veterano da guerra de independência foi demitido na semana passada sob a acusação de "deslealdade", vítima das ambições políticas da primeira-dama Grace Mugabe.
Sua derrocada durou apenas alguns dias. Forçado ao exílio, Mnangagwa prometeu voltar ao país para liderar o partido no poder, o Zanu-PF.
Retornou para casa nesta quarta-feira (22), indo direto para o escritório político do Zanu-PF na base aérea de Manyame, na capital Harare.
Mnangagwa foi destituído por Mugabe, de 93 anos, em 6 de novembro. Mas o veterano presidente calculou mal as consequências e a expulsão do "crocodilo" terminou com sua própria queda.
Sob pressão do exército - que tomou o controle do país em 15 de novembro - e das manifestações nas ruas, Mugabe fez o que nunca achou que teria de fazer e renunciou.
A notícia foi dada na terça-feira em uma sessão extraordinária do Parlamento, convocado para debater uma moção de destituição de Mugabe, que controlou todos os aspectos da vida pública no Zimbábue desde sua independência, em 1980.
Este cenário é o ponto culminante para este servo fiel do regime, cujos sonhos foram frustrados há tempos.
Desde a independência do Zimbábue em 1980, Robert Mugabe manteve Emmerson Mnangagwa em sua órbita, confiando-lhe importantes cargos ministeriais (Defesa, Finanças ...).
Em 2004, foi vítima pela primeira vez de sua própria ambição. Acusado de provocar intrigas para alcançar o posto de vice-presidente, perdeu o cargo de secretário do Zanu-PF, e sua rival Joice Mujuru venceu a disputa.
Finalmente, em 2014, chegou à vice-presidência, quando Joice Mujuru foi vítima de uma campanha que denegriu sua imagem orquestrada por Grace Mugabe.
Nascido em 15 de setembro de 1942, no distrito de Zvishavana, no sudoeste de um Zimbábue então britânico, o jovem Emmerson cresceu na Zâmbia.
Filho de um militante anticolonialista, juntou-se em 1966 às fileiras da guerrilha da independência contra o poder colonial. Preso, escapou da pena de morte e cumpriu dez anos de prisão.
- 'Destruir e matar' -
Há anos, Mnangagwa luta para estabelecer laços estreitos com os militares do país.
O "crocodilo" não derrama muitas lágrimas e é conhecido apenas por ser implacável. Ele explica que seus anos de guerrilha o ensinaram a "destruir e matar".
Quando foi chefe da Segurança Nacional, dirigiu em 1983 a brutal repressão nas províncias dissidentes de Matabeleland (oeste) e Midlands (centro).
O balanço da ação nunca foi confirmado oficialmente, mas teria feito cerca de 20 mil mortos.
Em 2008, foi o responsável pelas eleições para a presidência e organizou as fraudes e a violência que permitiram Robert Mugabe manter o poder, apesar da derrota no primeiro turno.
Seu zelo lhe valeram sanções americanas e europeias. Mas também o cargo estratégico de chefe do Comando de Operações de todo o aparato de segurança.
Takavafira Zhou, analista político da Universidade Estadual de Masvingo (sul), descreve Emmerson Mnangagwa como um "extremista linha dura".
Ele também seria um dos homens mais ricos de um regime criticado por sua corrupção, com interesses em minas de ouro.
Uma troca de e-mails diplomáticos americanos datada de 2008 e revelada pelo WikiLeaks, evocava "um patrimônio extraordinário", parcialmente adquirido quando ajudou o presidente Laurent Kabila a combater os rebeldes na República Democrática do Congo (RDC).
Após perder a vice-presidência na semana passada, rompeu dramaticamente com Robert e Grace Mugabe, acusando-os de se considerarem "semi-deuses" e denunciar um presidente "que acha que tem o direito de governar até sua morte".
Mas o seu retorno ao poder preocupa aqueles que não esqueceram seu passado.
"Ninguém quer uma transição em que um tirano não eleito seja substituído por outro", resumiu recentemente o ministro das Relações Exteriores britânico, Boris Johnson.
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* AFP