O embate diplomático que Kim Jong-un, o ditador da Coreia da Norte, impõe ao resto do mundo com a bomba de hidrogênio é apenas uma das pontas soltas da Guerra da Coreia, um conflito armado que ocorreu entre 1950 e 1953 e que colocou as duas Coreias como inimigas. Até hoje, nunca houve um tratado de paz entre as nações.
De 1910 até o fim da II Guerra Mundial, em 1945, as Coreias eram uma só colônia que pertencia ao Japão. Ao fim do conflito, tropas dos Estados Unidos e da União Soviética (URSS) ajudaram a região a romper com o domínio japonês. Em dezembro do mesmo ano, o território era governado por uma Comissão Americano-Soviética, sem protagonismo do povo coreano (houve protestos em todo o país).
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Cobrando a fatura do apoio, as potências da época dividiram o território em dois, a partir de uma linha imaginária, chamada de Paralelo 38. A Coreia do Norte passou a viver sob a influência da URSS em um regime comunista, enquanto a Coreia do Sul adotou o capitalismo, sob a égide dos EUA. A divisão, aos poucos, passou a gerar conflitos.
As Coreias realizaram eleições e elegeram líderes próprios. Na Coreia do Norte, assumia Kim II-sung, avô de Kim Jong-um, hoje líder do país. Na Coreia do Sul, tomava o poder o Syngman Rhee.
Do fim de 1948 a 1949, os exércitos soviéticos e norte-americanos desocuparam os territórios. Em seguida, as Coreias passaram a viver um embate ideológico, expressando a rivalidade entre EUA e URSS. Cada Coreia se declarava como o legítimo governo dos dois territórios.
Na Coreia do Norte, um grupo de militantes, inspirados pelo chinês Mao-Tsé Tung, decidiu se mobilizar com armas para reunificar os dois países. Em 25 de junho de 1950, o país cruzou a fronteira do Paralelo 38 e invadiu a Coreia do Sul, com apoio da China e da União Soviética, que desejavam fortalecer o comunismo na Ásia.
A Coreia do Sul, por sua vez, recebeu o aval para reagir da Organização das Nações Unidas (ONU) – sobretudo dos Estados Unidos, que esperavam assegurar sua influência (e do capitalismo) na região.
Ambos os lados tiveram momentos de vitória e de derrota. Seul, por exemplo, trocou de país mais de uma vez. O saldo foi cruel: as estimativas variam entre 1,2 milhão e 4 milhões de mortos, a maioria norte e sul-coreanos, chineses, russos e norte-americanos.
Em 27 de julho de 1953, o Armistício de Pan-munjom deu uma "pausa" na guerra – na prática, a Guerra da Coreia nunca acabou, houve apenas um cessar-fogo. Até hoje, não há um tratado de paz. O acordo interrompeu o conflito, implementou uma zona desmilitarizada e permitiu a troca de prisioneiros.
A Coreia do Sul permaneceu capitalista e recebeu incentivos dos Estados Unidos para se reerguer. A Coreia do Norte, por outro lado, mergulhou em um isolamento no cenário internacional e se vê, hoje, cada vez mais afundada na pobreza.
Os testes com bomba de hidrogênio e as reiteradas ameaças feitas por Kim Jong-un retomam a tensão e as posições diplomáticas da época e abrem o risco de que a Guerra da Coreia seja, mais uma vez, retomada, assim como um conflito envolvendo outros países.