Os opositores venezuelanos votarão, neste domingo (16), um plebiscito simbólico contra o presidente Nicolás Maduro. Esta será a ofensiva final depois de quase quatro meses de violentos protestos que aprofundaram o caos e a anarquia institucional.
Com um país estagnado e sobressaltado por quase 100 mortos nos protestos, a oposição e o governo travarão um intenso confronto a favor e contra a Assembleia Nacional Constituinte, convocada por Maduro.
O governo, em plena campanha para a eleição, em 30 de julho, dos 545 constituintes, promove a reforma constitucional como a única saída para a convulsão política e social e ao colapso econômico do país petroleiro.
– Nesse dia será definido o destino de Venezuela. Vamos à Constituinte para salvar a pátria da agressão dos fascistas, dos imperialistas e dos violentos – afirmou o presidente.
Leia mais:
Sergio Fausto: a oportunidade para a América Latina é histórica
Líder da oposição venezuelana continua "privado da liberdade" após sair da prisão, diz ONU
Venezuela: dois mortos e dezenas de feridos em mais um dia de protestos contra Nicolás Maduro
A Mesa da Unidade Democrática (MUD) considera a iniciativa uma "fraude" com a qual o governo tenta se perpetuar no poder, após 18 anos de governo chavista.
– Maduro quer transformar a Venezuela em Cuba e não podemos permitir. Por isso, neste domingo, devemos todos sair para votar – convocou Julio Borges, presidente del Parlamento, de maioria opositora.
Sem o aval do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), acusado de servir ao governo, a MUD celebrará a consulta popular confiante de que milhões de pessoas votarão para demonstrar uma contundente rejeição à Constituinte.
Com a radicalização do conflito, o secretário-geral da ONU, António Guterres, disse nesta sexta-feira (14), em comunicado, que as partes devem dialogar de maneira "urgente" para erradicar a violência e negociar um "caminho constitucional".
Votação atípica
Em meio à radicalização do conflito, em nenhuma das duas votações participarão as respectivas contrapartes. Portanto, ambos ganharão.
A oposição, o chavismo crítico – liderado pelo procuradora-geral Luisa Ortega– e a Igreja Católica rejeitam a Constituinte por não ter havido consulta prévia.
Em seu pedido para que a população se rebele contra o que chama de "ditadura", a MUD vê o plebiscito como a "hora zero", um detonante da fase definitiva em que espera tirar Maduro do poder, com protestos em massa e simultâneos, ou uma greve geral.
– Já estou cheia, cansada de não conseguir comida, medicamentos, o salário não me basta. Estamos lutando pelo país que queremos – disse uma enfermeira de 29 anos durante protesto.
Apoiado pelos poderes eleitoral e judicial e pelas Forças Armadas, Maduro acredita que terá a seu lado um "suprapoder" que regirá a Venezuela por tempo indefinido, podendo anular um Parlamento opositor e um Ministério Público rebelde.
No campo socioeconômico, o governo promete elevar a patamar constitucional os programas sociais, o controle de preços para frear a inflação – que o FMI calcula em 720% para 2017 – e o sistema de distribuição de alimentos subsidiados contra a grave escassez.
– Podemos estar insatisfeitos com a revolução por certas coisas que não estão funcionando. Não nos deixamos enveredar pela direita e vamos todos votar porque somos revolucionários – disse o dirigente juvenil Steven Márquez.
O que está em jogo
Para Maduro, o objetivo é que a Constituinte, desaprovada por 70% dos venezuelanos, segundo o Datanálisis, tenha "legitimidade", detenha a fissura no chavismo e a rejeição internacional e consiga que "a revolução se mantenha, ainda que sendo minoritária", acrescentou.
– Será muito complicado para o governo dar viabilidade ou governabilidade a uma Constituinte que nasceria com uma grande abstenção, em contraste com uma consulta com participação alta – disse à AFP o analista Benigno Alarcón.
O plebiscito também perguntará aos venezuelanos se concordam com uma mudança dos poderes públicos, incluindo o governo, e sobre a exigência de que as Forças Armadas – principal base de sustentação de Maduro – respeitem a Constituição.
A oposição instalará para a consulta – apoiada pela ONU, pela OEA e com cinco ex-presidentes latino-americanos como observadores – cerca de 14,3 mil mesas de votação na Venezuela e aproximadamente 500 em 80 países, enquanto o poder eleitoral disponibilizará cerca de 2 mil urnas na simulação.