Esta quarta-feira (19) marca um dia histórico no Uruguai por aquilo que alguns veem como avanço e outros definem como alto risco. A maconha começará a ser vendida em farmácias, e a polêmica não para de aumentar.
Agora, além do fato em si, surge uma grande questão: o componente psicoativo será de baixo teor, estabelecido em 2% de THC (o princípio ativo, que provoca o efeito alucinógeno). E surge o temor: isso não fará com que os usuários continuem procurando outros meios para a aquisição da droga?
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De acordo com o Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas, do Ministério da Justiça, atualmente, a quantidade de THC encontrada na maconha é de aproximadamente 4,5%, no Brasil. No México existe uma variação genética, a "sinsemilla" (sem semente, em espanhol), que pode ter entre 7,5% e 24% de THC.
O psiquiatra Flávio Pechansky diz que o teor no Uruguai, efetivamente, é baixo. Isso provoca um efeito que poderá ser inferior ao da maconha vendida atualmente pelos traficantes. Sobre o futuro da medida, Pechansky diz:
– É um experimento a céu aberto. Teremos de ver como será daqui para a frente.
As preocupações entre os estudiosos são de que os traficantes migrem para outras drogas, que haja aumento nas colisões de trânsito e que aumente o índice de psicoses provocadas pelo consumo.
Especialista em "uso problemático de drogas" e uma das impulsionadoras da venda de maconha em farmácias, a médica Raquel Peyraube faz críticas ao teor da maconha que será vendida nos estabelecimentos.
– Se você quer ganhar um mercado e tirá-lo dos traficantes, precisa levar em conta o consumidor, precisa pensar na perspectiva dele. Essa composição pode não pegar, porque o efeito será leve – afirma, sublinhando que os usuários estão acostumados a consumir maconha com variedade entre 7% e 10% de THC. Diante dessa constatação, o governo já estaria cogitando dobrar o THC, para 4%.
De acordo com o Instituto de Regulação e Controle da Cannabis (IRCCA), do Uruguai, 16 farmácias aderiram ao sistema. Todas cumprem os requisitos exigidos na lei aprovada em 2013 que regula produção e venda da erva.
O cronograma para a venda de maconha ao público em farmácias foi o ponto mais conflitivo e complexo da lei, apresentada e aprovada durante o mandato do ex-presidente José Mujica (2010-2015) como estratégia de luta contra o narcotráfico. A legislação habilita três vias para ter acesso à Cannabis sativa: cultivo em lares, cultivo cooperativo em clubes e venda em farmácias de maconha produzida por empresas privadas controladas pelo Estado.
O IRCCA contabiliza que, desde que o governo uruguaio deu início às inscrições de consumidores, em 2 de maio, cerca de 4,7 mil pessoas se registraram para comprar maconha nas farmácias (a população do Uruguai é de 3,4 milhões de habitantes). Cada pessoa inscrita tem direito a adquirir 40 gramas mensais (10 gramas por semana), a US$ 1,30 o grama.
A venda nas farmácias é a última etapa do processo de liberalização da produção e da venda iniciado em 2013.