Os três homens têm nove esposas e somam 96 filhos. A situação dos três chefes de família paquistaneses é o reflexo de uma população em plena explosão que transformou o Paquistão no sexto país mais habitado do mundo.
A população paquistanesa, que passou por um censo pela última vez em 1998, foi calculada na época em 135 milhões de habitantes. Um novo censo, iniciado em março e que terminou recentemente, eleva a população do país a 200 milhões de habitantes, superada apenas por outros cinco países, segundo a ONU. Os resultados provisórios do censo devem ser divulgados apenas no fim de julho.
E a tendência continua sendo de aumento. O Paquistão tem a maior taxa de natalidade do sul da Ásia, com quase três filhos por mulher, segundo o Banco Mundial (BM). No país, com exceção das grandes cidades, praticamente não existe método contraceptivo.
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Os analistas advertem para as consequências sociais e ambientais da galopante demografia. Entretanto, os três pais de família, com os quais a AFP se reuniu diversas vezes, não parecem preocupados. "Alá proverá", afirmam.
– Deus criou todo o universo e todos os seres humanos: por que devo seguir contra o processo natural do nascimento de uma criança? – pergunta Gulzar Khan, que tem 36 filhos.
Como ele, muitos paquistaneses consideram que o islã é incompatível com o planejamento familiar.
Rivalidades de clãs
Uma das razões do elevado número de filhos é a rivalidade entre clãs: a situação acontece em Bannu, noroeste do país, onde Khan mora com sua terceira esposa, atualmente grávida.
– Queremos ser mais fortes que os demais clãs – explica o homem de 57 anos, ao lado de 23 filhos e filhas.
No Paquistão, onde a poligamia – apesar de legal – é rara, as famílias tão numerosas como a de Khan não são, no entanto, a norma. Analistas alegam que o "boom" demográfico pesa sobre os recursos de um país jovem, onde faltam empregos e no qual 60 milhões de pessoas – quase um terço da população – vivem abaixo do limite da pobreza.
Zeba A. Sathar, diretora no Paquistão do Centro para a População, organização que trabalha para a ONU, espera que o censo mostre uma desaceleração do índice de crescimento da população, mas que permaneceria elevado para região.
Para ela, este seria um passo no bom caminho, já que os políticos afirmaram explicitamente que "frear o crescimento" da população é algo necessário para o bem do país.
Contando os netos
O próprio Khan tem 15 irmãos e irmãs. Um deles, Mastan Khan Wazir, também tem três esposas e 22 filhos. Os dois irmãos têm dificuldades para contar os netos.
Wazir, de 70 anos, é uma celebridade local em seu distrito do Waziristão do Norte.
– Deus prometeu nos dar alimentos e recursos, mas as pessoas não têm fé – declarou à AFP, vestido com seu tradicional turbante.
Mais ao sul, em Quetta, capital da província de Baluchistão, Khan Mohamed, chefe de uma família com 38 filhos, pensa de modo similar, mas não desprezaria um ajuda das autoridades.
– Quanto mais muçulmanos, mais serão temidos por seus inimigos. Os muçulmanos deveriam ter mais e mais filhos – opina.
A AFP não conseguiu falar com as esposas dos três homens para ouvir suas opiniões. Aisha Sarwari, militante feminista, defende que as mulheres devem ser levadas em consideração nas questões de família.
– O acesso ao controle de natalidade pode representar uma verdadeira mudança para elas – disse à AFP.
O próprio Khan admite que não seria ruim um freio na taxa de natalidade. As rivalidades tribais diminuíram nos últimos anos em sua região, afirma.
– Graças a Deus, a guerra e os combates terminaram, assim uma redução da população não seria ruim – disse.
Além disso, completa, isto permitiria um pouco mais de tempo para outras tarefas.