Há oito meses no Brasil, o embaixador italiano Raffaele Trombetta está no Rio Grande do Sul tentando estreitar laços que incentivem investimentos brasileiros no país europeu. É hora de "levar o mundo à Itália", diz Trombetta, que esteve em Caxias do Sul no domingo e, em Porto Alegre, teve conversas com empresários e com o governador Tarso Genro nesta segunda-feira.
Para Trombetta, Brasil e Itália devem pensar o futuro (e esquecer o constrangimento do impasse em torno da não extradição do escritor italiano Cesare Battisti, considerado refugiado político no Brasil, e que azedou as relações bilaterais quando Tarso era ministro da Justiça). Em visita ao Grupo RBS, acompanhado do cônsul Augusto Vaccaro e de Renata Bueno, primeira brasileira eleita para o parlamento italiano, Trombetta falou sobre os laços entre os dois países e problemas atuais enfrentados pelos italianos. Confira trechos:
Zero Hora - Há muitas queixas sobre a demora na renovação de passaportes italianos e para a conclusão dos processos de cidadania. Qual é o problema principal?
Raffaele Trombetta - É o número elevado, altíssimo de descendentes de italianos no Brasil. No Brasil, há mais ou menos 30 milhões de descendentes. E conseguimos em cada ano em todo o país, finalizar 20 mil novos pedidos de cidadania por ano. A maioria dos descendentes italianos estão no Estado de São Paulo. A estrutura faz o que pode fazer.
ZH - A estrutura foi reduzida nos últimos anos?
Trombetta - É evidente que, em um período de dificuldades orçamentárias na Itália, fica difícil fortalecer as estruturas diplomáticas e consulares. Estamos em um processo de revisão geral da rede consultar e diplomática porque é um período difícil para a Europa, para a Itália e isso tem consequência na rede diplomática consular. Estamos sofrendo com uma pequena redução na estrutura consular, mas o grande problema é o número de descendentes.
ZH - A Itália cogita restringir o acesso?
Trombetta - Restringir não. Temos de respeitar a lei. Temos de enfrentar a situação com os recursos que temos. Mas a produtividade aqui é muito elevada. O consulado em Porto alegre completa 6 mil pedidos de cidadania a cada ano e há 15 empregados.
ZH - Quais os motivos que levam os descendentes a fazerem a cidadania?
Trombetta - Não creio que as oportunidades de trabalho para estrangeiro neste período são muito pequenas. Isso como consideração de caráter geral. A minha impressão é que tem ítalo-brasileiros interessados em conseguir o passaporte italiano porque isso significa um acesso mais fácil aos Estados Unidos. Mas essa é uma minoria. Pedem porque tem desejo de ver reconhecido pertencimento à Itália e também para oportunidades de negócio.
ZH - Qual é o motivo da sua visita ao Rio Grande do Sul?
Trombetta - A Itália é conhecida fora da Itália. Agora queremos levar o mundo para a Itália e apresentar as oportunidades de investimento na Itália. O governo italiano está finalizando nestes dias o plano chamado Destino Itália, para melhor as condições de investimento na Itália. Temos dificuldades, mas estamos abordando essas dificuldades, e este plano inclui 50 medidas que o governo se compromete a realizar nos próximos meses para agilizar os investimentos estrangeiros. Em 2015, em Milão, será realizada a Expo 2015, que é um evento mundial extraordinário, e o tema da Expo é alimentação e energia. Esse é um tema particularmente importante para o Rio Grande do Sul, que tem na agroindústria um dos setores mais dinâmicos.
ZH - Qual a política italiana em relação aos imigrantes que se arriscam em embarcações clandestinas para chegar à ilha de Lampedusa?
Trombetta - É um drama esse da imigração. A Itália está tratando de fazer é ajudar a criar uma política europeia de imigração. A Itália está na linha de frente por ser a fronteira meridional, mas esse é um problema de toda a União Europeia. A Itália tem uma responsabilidade e um grande compromisso com países em situação dramática. Mas uma resposta séria, que tenha sucesso, do ponto de vista italiano é uma resposta europeia. O que podemos fazer é receber os imigrantes, criar as condições para a integração no primeiro momento. O ponto fundamental é a cooperação com os países de onde parte esses imigrantes, como a Líbia. A primeira coisa que a Itália e a União Europeia acham é que temos de fazer é a colaboração para gerir o fluxo enorme, além do patrulhamento. Lampedusa está recebendo muito além de sua capacidade. Os dois países que enfrentam problemas, situações críticas e dramáticas sobre a imigração é a Itália e a Grécia.
ZH - Em relação ao caso Cesare Battisti, que tumultuou as relações entre Itália e Brasil durante o governo Lula, a Itália dá o caso por encerrado?
Trombetta - Não posso dizer que dá por encerrado. A posição italiana ficou muito clara sobre esse tema. O que queremos fazer nas relações bilaterais com o Brasil é olhar para o futuro. As relações bilaterais são excelentes entre os dois países. Na próxima semana, realizaremos em Roma uma reunião do conselho de cooperação bilateral entre os dois países, a primeira vez que se reúnem depois de quatro anos porque queremos olhar para o futuro. O caso Battisti fica como está. A posição italiana fica sendo muito clara. Foi um momento difícil nas relações bilaterais e que felizmente não durou muito e agora queremos falar de outras coisas. É o que vamos fazer agora com o conselho de cooperação.