O primeiro-ministro da Tunísia, Hamadi Jebali, irá dissolver o governo liderado por um partido religioso e formar uma administração de unidade nacional, de acordos com fontes oficiais citadas pela rede Al-Jazeera, do Catar.
O movimento ocorre após o assassinato do líder de oposição Shokri Belaid, do Partido Democrático Patriótico, de esquerda e secular, na frente de casa. Segundo as fontes, Jabali tomou a decisão de forma "pessoal" e para preservar os "interesses do país". Após a morte de Belaid, milhares de pessoas passaram a protestar pelas ruas de Túnis. Foram registrados choques violentos entre apoiadores de Belaid e a polícia ao longo das principais avenidas da capital tunisiana, com o uso de gás lacrimogêneo para dispersar os manifesntantes e inúmeras prisões. A multidão pedia a queda do regime equanto cercava uma ambulância que carregava o corpo do líder morto.
Enquanto os protestos se intensificavam, quatro grupos de oposição na Tunísia anunciaram que deixariam a Assembleia Nacional e chamariam uma greve geral.
O presidente do país, Moncel Marzouki, cancelou sua participação na cúpula da Organização da Cooperação Islâmica (OCI), no Cairo, para retornar urgentemente à capital do país, deixando Estrasburgo (leste da França), onde participava de uma sessão do Parlamento Europeu.
- Este assassinato odioso de um líder político que eu conhecia bem e que era meu amigo... é uma ameaça, é uma carta enviada que não será recebida - disse Marzouki perante o Parlamento Europeu.
Vários manifestantes saquearam as sedes do Ennahda - partido do primeiro-ministro, islâmico - em Mezzouna, perto de Sidi Bouzid, e em Gafsa (centro).
Também foram incendiados os gabinetes do Ennahda em Mezzouna e saqueados os do partido em Gafsa. Além disso, em Sidi Bouzid, Kasserine, Beja e Bizerte ocorriam outras manifestações para denunciar o assassinado de Belaid e contra o partido islamita governante.
O irmão da vítima acusou imediatamente o partido islâmico Ennahda de ser responsável pelo assassinato.
"Acuso (o chefe do Ennahda) Rached Ghannouchi de ter ordenado assassinar meu irmão", declarou Abdelmajid Belaid.
A esposa do opositor declarou a uma rádio local que seu marido foi baleado duas vezes quando saía de casa.
Chokri Belaid, de 48 anos, líder da oposição de esquerda e muito crítico com o governo atual, se uniu a uma coalizão de partidos, a Frente Popular, que se apresenta como uma alternativa ao poder.
O primeiro-ministro denunciou imediatamente o assassinato, que classificou de "ato de terrorismo".
A violência social e política se multiplicou no país nos últimos meses.
Vários partidos da oposição e sindicalistas acusaram milícias pró-islâmicas de ataques contra os opositores ou seus escritórios.
Por outro lado, a Tunísia está presa em um beco sem saída político devido à falta de compromisso sobre a futura Constituição, que bloqueia a organização de novas eleições.
Em suma, a coalizão no poder dirigida pelo Ennahda atravessa uma grave crise, já que seus dois aliados de centro-esquerda, Ettalatol e o Congresso para a República, exigem uma ampla remodelação ministerial para retirar dos islâmicos as principais pastas.
Nova Primavera
Governo da Tunísia é dissolvido após assassinato de líder da oposição
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