Winnsboro, Texas - Nas florestas de carvalhos e pinheiros que cobrem esta parte do Texas, o barulho das máquinas pode ser ouvido até bem tarde, entrecortado apenas pelos sons de um grupo de ativistas pedindo o fim da atividade.
Aqui, entre as florestas e os campos agrícolas, o que pode ser uma das últimas batalhas sobre o oleoduto Keystone XL vem se desenrolando há semanas, desde que se iniciou a construção do braço sul do controverso projeto, em agosto.
Enquanto tratores e escavadeiras abrem um trajeto de 15 metros de largura para o oleoduto - este trecho correrá de Cushing, Oklahoma, até a costa do Golfo -, um pequeno grupo de ativistas ambientais defende as altas árvores em seu caminho.
E com a bênção de alguns proprietários de terras locais, cujas propriedades serão atravessadas pelo oleoduto, os manifestantes formaram uma rede de casas, estruturas e polias nas árvores - num último esforço para impedir o avanço do enorme projeto.
- Inicialmente, grande parte do movimento ambiental em escala nacional havia meio que desistido desta luta -, afirmou Ron Seifert, porta-voz do Tar Sands Blockade, o grupo de ativistas que se reuniu perto de Winnsboro e alega que o petróleo de areias betuminosas que o duto transportará é especialmente tóxico.
- Mas nós despertamos as pessoas daquele sono - completou ele. - Agora, acho que há um entendimento de que as pessoas não vão abrir mão disso.
A TransCanada, empresa por trás do projeto, declarou que a construção não foi impedida na maioria dos casos, contornando com segurança os locais onde alguns ativistas permaneceram empoleirados sobre os carvalhos por quase três semanas. Os cuidadores de árvores, como são conhecidos, sobreviveram com comida enlatada e água, e passaram grande parte do tempo lendo.
Mas, algumas vezes, a empresa reconheceu que a situação se tornou perigosa.
- Em um caso, manifestantes pularam por baixo de um caminhão e se amarraram ao eixo traseiro com plástico - afirmou Shawn Howard, um porta-voz da TransCanada, por e-mail. "Eles tiveram sorte que o motorista os viu descendo - se não fosse assim, isso poderia ter gerado graves consequências para todos.
Howard disse que a empresa estava se certificando de que os locais de trabalho estavam seguros, "mesmo para aqueles que estão desrespeitando a lei e invadindo essas terras".
Ainda assim, com manifestantes assumindo posições em três plataformas de 21 metros de altura e ao longo de uma cerca de 30 metros montada com madeira, a tensão no Texas vem aumentando na rota do oleoduto - programado para ser concluído no próximo ano. Policiais de folga, contratados por uma empreiteira da TransCanada, patrulham o perímetro das obras dia e noite.
Neste mês, um homem se acorrentou a uma cápsula de concreto enterrada no solo antes que a polícia conseguir desacorrentá-lo e prendê-lo, disse Seifert.
E em 4 de outubro, a atriz Daryl Hannah foi detida junto a uma proprietária de terras local, Eleanor Fairchild, de 78 anos, após bloquearem máquinas que limpavam um caminho pelas terras de Fairchild.
As duas mulheres foram levadas à cadeia de Wood County sob acusação de invasão e liberadas, segundo registros da cadeia. Hannah também enfrenta acusações de resistência à prisão.
O xerife de Wood County, Bill Wansley, não respondeu a um pedido de comentários. Seifert declarou que 21 manifestantes haviam sido presos desde o final de agosto.
Não foi por acidente que os ativistas ambientais escolheram Winnsboro, a 161 quilômetros de Dallas, para defender sua posição. Eles encontraram um improvável aliado nas famílias texanas daqui, que combatem o projeto há anos.
Uma proprietária de terras, Susan Scott, não tinha ideia de que o oleoduto transportaria petróleo de areias betuminosas, e só assinou um direito de passagem para a TransCanada por temer uma ação judicial. Desde então, Scott, de 62 anos, pegou os US$ 22 mil recebidos e enterrou-os numa jarra de vidro em sua propriedade de 24 hectares. "Não me importo se apodrecer. Isso é dinheiro contaminado", disse ela, encarando uma grossa cicatriz que hoje atravessa suas terras. "Me senti como se fosse culpada por destruir minha fazenda."
Howard, da TransCanada, disse entender que alguns proprietários de terras fossem contra o oleoduto, e que a empresa respeita as pessoas cujas terras são necessárias para o projeto. - Sempre fomos transparentes sobre os materiais que entrarão no oleoduto -completou ele.
Sob alguns aspectos, o impasse também confere uma sensação mais profunda de inevitabilidade ao Keystone XL.
Neste ano, após dizer que a TransCanada precisaria contornar áreas ambientalmente delicadas no Nebraska, o presidente Barack Obama estimulou a empresa a apresentar um novo pedido ao Departamento de Estado dos Estados Unidos.
E ele abraçou a parte menos controversa do Keystone XL, que recebeu autorizações definitivas do Corpo de Engenheiros do Exército neste verão.
Um golpe particularmente esmagador para os oponentes veio em agosto, quando um juiz de Lamar County determinou que a TransCanada poderia usar o domínio eminente para desapropriar terras privadas e construir o oleoduto.
Em mais um revés, a TransCanada recentemente processou um dos maiores adversários da obra, o proprietário de terras David Daniel, por se recusar a reconhecer um acordo que ele havia assinado com a empresa em 2010, segundo seu advogado.
Depois disso, Daniel, um tranquilo carpinteiro de 45 anos, liquidou o processo e pediu que os manifestantes deixassem sua propriedade. - Na verdade, é por respeito a David Daniel que ficamos - afirmou Seifert. - Eu sustento o fato de que proteger suas florestas é o melhor para ele, o melhor para a comunidade, o melhor para o planeta Terra.
The New York Times
Manifestantes desafiam tratores de oleoduto no Texas
Grupo de ativistas ambientais defende as florestas de carvalhos e pinheiros que podem ser afetadas durante a construção da tubulução
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