Nas grandes cidades brasileiras, a relação do político com a população nas ruas, na média, varia entre a indiferença e a hostilidade. No Interior é diferente. Ou era. Arrebanhadores de votos têm redutos eleitorais, nos quais frequentam festas e celebrações semanalmente. Conhecem muitos dos moradores pelo nome.
O parlamentar, principalmente o deputado federal, ainda consegue atender a interesses do produtor interiorano com pressão ou leis em Brasília, para perdoar dívidas de uma safra ruim ou garantir juros baixos no financiamento de máquinas. Políticas públicas chegam de forma mais concreta e perceptível em ações como o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf).
— Temos políticos que dão força ao agricultor — confirma Ronaldo Both, de São Nicolau, líder das manifestações na cidade.
Entre a insatisfação e a defesa da democracia
Considerando a melhor qualidade de vida do Interior e a presença diminuta de problemas como a violência, típica das metrópoles, aflora a dúvida sobre os motivos que levaram pequenas comunidades a inflamar o país em protestos durante a greve dos caminhoneiros.
— O Interior ainda recebe o político, mas nunca o descontentamento esteve tão grande. Sabe-se de alguns sérios, mas pouquíssimos. Por outro lado, com militares, sequer poderíamos montar piquetes nas estradas. Os mais jovens não sabem o que é isso. Sou a favor de democracia com ordem e moralização. Não precisa de quartel. Isso é retrocesso — diz Ivo Batista, presidente da Cooperativa Tritícola Regional Sãoluizense (Coopatrigo), de São Luiz Gonzaga.
Avaliação semelhante é feita por Agnaldo Barcelos da Silva, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Santo Antônio das Missões e Garruchos (STR), que traz na fachada da sede enorme cartaz contra a reforma da Previdência de Michel Temer.
— O pessoal se encaminha para ficar de saco cheio da política aqui (Interior) também. Está crescendo indignação muito forte. Virou quase unanimidade que votar não está mais resolvendo. O político, depois de eleito, vai contra os interesses da comunidade.