
As cidades imaginadas nas escolas de arquitetura nem sempre coincidem com a cidade real. Isto porque, durante a projeção, elas são idealizadas sem considerar as características já existentes. Contrariando esta lógica e buscando ajudar a reconstruir os bairros do 4º Distrito, a Faculdade de Arquitetura da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) passará a incluir os temas debatidos pelas entidades da região em várias disciplinas do curso de Arquitetura e Urbanismo.
A aproximação entre o universo acadêmico e o mundo real iniciou há cerca de um ano. Cibele Vieira Figueira, doutora pela Universidade Politécnica da Catalunha (Espanha) e professora de urbanismo da PUCRS, começou a participar das reuniões promovidas no 4º Distrito e a colher ideias. Estimulada pelas discussões, decidiu levar os assuntos para a sala de aula. Agora, a partir deste ano, por meio do projeto Ateliê Vertical, os desafios da região integrarão as disciplinas de projeto arquitetônico e de urbanismo e algumas de história da arquitetura.
- Abordaremos conceitos que resgatam e revalorizam aspectos essenciais da história do bairro ao mesmo tempo em que propõem novas intervenções na sua arquitetura, visando sua qualificação enquanto cidade para pessoas. O 4° Distrito possui diversos bairros que, a pesar das deficiências hoje observadas, revelam um enorme potencial. Este é um projeto que se pretende dar continuidade nos próximos semestres, e com isso, contribuir com a comunidade e o poder público - diz a professora.
O primeiro produto foi gestado neste semestre pelo aluno Lucas Burmann. O estudante se apropriou do conceito de acupuntura urbana (o qual sugere conceber a cidade como um organismo vivo, cuja intervenção em pequenos espaços resulta em benefícios irradiados para a grande área) para pensar possíveis mudanças no Floresta.
- Cheguei à escolha do bairro Floresta por ser chave no 4º Distrito, próximo a bairros nobres, ao Centro, e de boa qualidade de vida. A ideia é analisar o todo e agir pontualmente - define Burmann.
Repensando o bairro, ele sugeriu em seu trabalho de conclusão de curso uma série de modificações na estrutura da Rua São Carlos. Em relação à mobilidade, a proposta seria unificá-la, diminuir as faixas de circulação de veículos automotores e ampliar a presença de pedestres e bicicletas. No encontro com a Ramiro Barcelos, construir uma praça transversal à Paróquia Santa Teresinha para a reunião de pessoas. E também construir um museu e escola de arte nos prédios ociosos.
Burmann também remodelou a futura estação do metrô da Capital e observou que a Paraíba, via com um túnel de árvores, está "escondida" e deslocada da realidade do município. Sua proposta é revitalizá-la e aproximar os moradores da Vila dos Papeleiros ao grande centro.
- A gente tem de mudar as áreas e integrar as pessoas que já estão lá, fazê-los crescer e desenvolver a região. Não expulsá-los, como acontece quando projetam um novo bairro. Não fazer uma nova cidade, mas fazer uma cidade para as pessoas - afirma.
O que é o 4º Distrito?
O 4° Distrito é uma grande área composta por seis bairros (Floresta, São Geraldo, Navegantes, Marcilio Dias, Farrapos e Humaitá). As seis áreas são próximas do Centro e do Guaíba, e conectadas por duas grandes vias (Rua Voluntários da Pátria e Avenida Farrapos).
Segundo a urbanista Cibele Figuera, ele possui vários setores de grande valor histórico e cultural, com casarios inventariados e outros que, embora não tenham grande valor individualmente, contribuem para a paisagem urbana:
- Existem muitos motivos para trabalhar nesta área, porém, a demanda urgente de novas intervenções não podem acontecer desvinculadas de um processo integral e sensível às caraterísticas do lugar. Vários bairros da cidade estão desconfigurando-se por ações individuais. Este tipo de estudo é muito importante para que se construa cidade de uma forma consciente, agregando valores e não perdendo-os.
Nos últimos anos houve grandes investimentos tanto de infraestrutura (como o Conduto Forçado Álvaro-Chaves), como em habitação e estrutura viária (ampliação de ruas e a construção da Rodovia do Parque). Futuras estações do metrô de Porto Alegre estão previstas para a região.



