Porto Alegre entrou no mapa da Operação Lava-Jato quando, durante o monitoramento do principal doleiro investigado, a Polícia Federal detectou suposta remessa de dinheiro em espécie para o engenheiro Eduardo Antonini e para o jornalista e consultor Marcos Martinelli. Conforme o delegado regional de Investigação e Combate ao Crime Organizado do Paraná, Igor Romário de Paula, Antonini teria sido destinatário de R$ 500 mil e Martinelli, de R$ 60 mil. A PF garante que a entrega teria sido feita aos dois gaúchos por pessoas que trabalham para o doleiro paranaense Alberto Youssef, um dos presos nesta segunda-feira. As buscas realizadas nas residências de ambos tinham como foco principal localizar esses valores, o que não se concretizou. O trabalho na Capital foi feito pela Delegacia de Combate a Crimes Financeiros.
- Nós soubemos da entrega com atraso, confirmamos, mas não podíamos deflagrar a ação de busca antes da operação. Isso pode ter prejudicado nossa ação. O dinheiro foi rapidamente retirado das casas ou destinado a outras atividades - explicou o delegado Igor.
Segundo a PF, os valores teriam sido entregues aos investigados nos últimos 10 dias. Antonini e Martinelli serão intimados a depor. A expectativa é de que sejam ouvidos na Polícia Federal em Porto Alegre.
- Eles vão ter de esclarecer qual a relação deles com um doleiro do Paraná sediado em São Paulo e que não trabalha com nada que tenha origem lícita. Esse dinheiro que eles receberam não é declarado - afirmou o policial.
O foco da Lava-Jato, segundo o delegado regional, foi na atuação dos doleiros, e não ampliar o leque de investigados. A estratégia é para garantir rapidez para o processo.
- Partimos para trabalhar nos crimes que antecederam a lavagem. Existe possibilidade grande de valores envolvendo política - disse.
O delegado ainda confirmou que a investigação envolve dinheiro que passa por construtoras que têm contratos de obras da Copa, mas que isso não representa que existam problemas com as construções.
Quem é Eduardo Antonini
Porto-alegrense, Eduardo Kenzi Antonini é engenheiro eletricista formado na UFRGS, mestre em gestão empresarial e um dos mentores da construção da Arena do Grêmio. Antes de se destacar como dirigente tricolor, Antonini foi diretor da Secretaria de Informática do Tribunal Regional do Trabalho entre 1997 e 2010. Ingressou em 1990 no órgão. Desde 2012, está em licença não-remunerada do TRT para assuntos particulares. Membro do Conselho Deliberativo do Grêmio, foi, ainda, vice-presidente de Planejamento, entre 2005 e 2008, e presidente da Grêmio Empreendimentos, de 2011 a 2013. Durante o governo Yeda Crusius, foi secretário extraordinário da Copa. Em 2012, recebeu o título de Cidadão Emérito de Porto Alegre. Em 2013, passou a atuar como consultor do Juventude, em Caxias.
Quem é Marcos Martinelli
Jornalista, bacharel em Direito e consultor de marketing político, especializou-se em campanhas eleitorais no Brasil e em Portugal. A primeira experiência no ramo ocorreu em 1989, como repórter da campanha que elegeu Mario Covas ao governo de São Paulo. No segundo turno, participou da campanha de Lula à Presidência. No currículo do jornalista constam ainda as campanhas de Lindbergh Farias (PT), eleito prefeito de Nova Iguaçu em 2004, de José de Anchieta Júnior (PSDB), escolhido governador de Roraima em 2010, e de José Fortunati (PDT), vencedor da disputa à prefeitura de Porto Alegre, em 2012. Ao longo de sua carreira, também foi secretário de Comunicação do prefeito de Canoas, Jairo Jorge (PT). Como jornalista, trabalhou em várias emissoras de TV, sendo que sua última atuação foi na Record, entre 2006 e 2007. Antes disso, teve passagens pela TV Cultura, RBS TV, SBT, Bandeirantes e TVE.
CONTRAPONTOS
O que disse Eduardo Antonini
"Houve a operação, mas não pegaram nada na minha casa. Vou me informar sobre a investigação."
Depois de obter a informação com a PF de que Antonini teria recebido R$ 500 mil de um doleiro, ZH tentou novo contato com o engenheiro, mas não obteve retorno até o fechamento desta edição.
O que disse Marcos Martinelli
"Fiquei surpreso. Sou consultor de marketing empresarial e político. Nunca tive contato com doleiros ou outros envolvidos na operação. E aguardo esclarecimentos sobre a investigação. A Polícia Federal está com meu laptop. Não conheço esse doleiro, não recebi dinheiro. Nos últimos 10 dias estava em Roraima."


